1º Tenente PM Lucas Sançana de Melo explica a influência dos dados, novas tecnologias e programas sociais na segurança pública da cidade
A segurança pública nas cidades é de extrema importância e a população ativa deve sempre cobrar melhorias e reivindicar seus direitos. Assim sendo, para garantir a proteção da comunidade batataense a Polícia Militar em união com os diversos setores sociais busca para além da repressão da criminalidade, sua prevenção. Em entrevista exclusiva ao Jornal da Cidade, o 1º Tenente PM Lucas Sançana de Melo – Comandante Interino da 2ª Cia detalhou o atual funcionamento das ações de combate ao crime a partir de dados, novas tecnologias instaladas e programas sociais preventivos a fim de reduzir os índices criminais na cidade e garantir a ordem pública.
A partir da análise de dados e estatísticas de ocorrência, a Polícia Militar da cidade tem buscado direcionar patrulhamentos de forma planejada, visando maior eficiência em áreas com maior incidência de crimes. Para isso, existem também os programas de prevenção, como o Proerd, que intentam reduzir comportamentos de risco e prevenir problemas sociais, como a criminalidade, o uso de drogas ou a violência desde a infância do indivíduo. Além disso, a interação com a população e o apoio de outras instituições, como a Guarda Municipal e a Polícia Civil, têm sido fundamentais para a criação e manutenção de um ambiente de segurança mais colaborativo e bem-sucedido.
“As pessoas dizem que criminoso tem que ir para a cadeia, o bandido tem que estar preso, não se pode aceitar infração E se você parar na vaga de um deficiente, sendo uma pessoa que não necessita especificamente desta vaga? Também é errado, é imoral, é uma infração administrativa. A gente quer a justiça e a gente quer a lei, mas só quando não é pra gente, quando não é pros meus, quando não nos afeta. O que precisamos mesmo é de uma mudança dessa mentalidade.”
Entretanto, o sistema policial também enfrenta obstáculos, de acordo com o 1° Tenente Lucas Sançana, um dos maiores desafios enfrentados atualmente pela PM é a tentativa de desestabilização das instituições por parte da população, principalmente em âmbito das mídias sociais. Ele ressalta que: “Estamos pilotando uma Ferrari e tem gente que está reclamando que o volante está duro. Nós temos uma instituição muito forte na mão, mas não podemos nos permitir cair nas provocações.”. A criação de narrativas que minam a confiança dos cidadãos em órgãos resultam em uma desestabilização da instituição e instauram caos na população, mas cabe aos profissionais da segurança juntamente com os órgãos de imprensa o compromisso com a verdade.
Neste contexto, em entrevista cedida a equipe do JC, o Tenente Sançana destacou a importância da tecnologia, o foco na educação e apoio da comunidade no aprimoramento da segurança pública em Batatais.
JC: Como acontecem os patrulhamentos, com que frequência e em quais pontos estratégicos? Há alguma especificidade?
L: Nós temos uma sessão aqui que é a sessão operacional. Nada que nós da Polícia Militar fazemos aqui é empírico. O policial não chega para assumir o serviço aqui, monta na viatura e vai para onde ele está a fim de patrulhar naquele dia. Essa seção operacional trabalha com análise de dados de estatísticas de ocorrência. E com base nessas estatísticas, a gente direciona o nosso policiamento. Nós temos um cartão de prioridade de policiamento que a gente chama de CPP. É um documento feito pelo pessoal da análise operacional, chancelado por mim, que o policial todo dia que assume o serviço recebe um mapa de onde ele tem que estar especificamente em cada horário aqui na nossa cidade. O patrulhamento é direcionado de acordo com a demanda, com a incidência criminal, com os pontos onde determinados crimes específicos estão ocorrendo e assim a gente vai direcionando. Nós temos hoje em Batatais mais de 60 bairros, e nós trabalhamos todos os dias com algo em torno de três equipes por turno de serviço. Então, dentro dessa nossa capacidade operacional, a gente vai designando as equipes.
JC: Investir em programas de prevenção, educação e inclusão social também é combate ao crime. Como vocês da polícia militar encaram essa precariedade no sistema no que diz respeito a prevenir a criminalidade na raiz do problema?
L: A Polícia Militar, especificamente a minha instituição, tem uma preocupação muito grande com diversos projetos direcionados a isso. Talvez o mais vitorioso seja o Proerd, um programa consolidado em que o policial militar se insere nas escolas, na expectativa de plantar a semente que tire o indivíduo do caminho das drogas e do crime no futuro. Sempre que tenho a oportunidade de palestrar em escolas e em SIPAT das empresas, gosto muito de falar com as crianças sobre a importância da educação e do investimento na base. Tem uma frase, que não é minha, se não me engano, é de Gandhi: “a educação é a arma mais poderosa que podemos usar para mudar o mundo.” Acredito muito nisso. Trabalhamos com o fuzil 7.62, o fuzil 5.56 e pistolas Glock .40, mas nenhuma dessas armas é mais eficaz do que a educação e o investimento em uma sociedade estruturada. É importante essa sua pergunta, pois normalmente recai sobre a polícia militar toda a pressão e cobrança pelas mazelas do mundo. Porém, somos uma parte dessa engrenagem. A segurança pública envolve todas as pessoas que se beneficiam dela. A Polícia Militar faz parte, assim como a Polícia Civil, com sua função investigativa, e as guardas municipais, que cuidam dos bens públicos. O Ministério Público, o Judiciário e os jornalistas, com seu alcance e poder de influenciar, são fundamentais no combate à criminalidade. As pessoas precisam se engajar nessas questões. Sempre falo da lei de Peter Parker, do Homem-Aranha: “Se não acontece comigo, então não é problema meu.” Vivemos isso até que o problema acontece, como um furto na minha rua ou um crime que afeta a minha família, e passamos a nos preocupar. Todo mundo é importante. O envolvimento da população, o espaço que temos no jornal e o bom relacionamento contribuem.
JC: Como a Polícia Militar trabalha com outras instituições (como a Guarda Municipal, a Polícia Civil e a comunidade) para combater o crime?
L: Nós só conseguimos fazer frente à criminalidade graças a essa união. Eu trabalhei por sete anos em São Paulo. Em São Paulo nós somos todos um pouco mais distantes, no sentido de não nos conhecer pessoalmente. Mas profissionalmente, nós temos também um bom relacionamento, porque sem esse bom relacionamento, sem esse entrosamento, a gente não consegue vencer. Agora no interior, aqui em Batatais especificamente, temos um bom relacionamento profissional por sermos todos daqui, porque normalmente aqui todos nós nos conhecemos, a gente tem uma amizade com o delegado de polícia, nós temos uma amizade com a juíza responsável pela vara criminal, nós temos um bom relacionamento com o prefeito municipal, com o chefe da guarda municipal, então isso ajuda bastante. E Batatais é uma cidade que tem por característica a população participativa, uma população que nos fornece um número grande de informações, que participa ativamente da segurança pública, que nos cobra. Isso é legal, nos tira da zona de conforto e nos obriga a cada dia procurar direcionar de maneira realmente eficiente o nosso policiamento para atender todas as demandas.
JC: A tecnologia num geral e o monitoramento por câmeras, com central disponibilizada para a PM, vai melhorar o serviço de prevenção aos crimes?
L: Essa é uma luta histórica aqui do nosso município. Tivemos um contato recente com o atual prefeito e parece que vai sair, finalmente, do papel. Sem dúvidas, será uma das maiores conquistas da história da nossa cidade para a segurança pública. Isso vai refletir na permanência dos nossos indicadores criminais que estão em queda e vai ajudar ainda mais para que consigamos continuar reduzindo. O criminoso quer facilidade, busca o anonimato e a possibilidade de não ser identificado. O fato de estar sendo monitorado e vigiado inibe a ação delituosa, e com certeza Batatais vai se tornar inóspita para o criminoso. Ele não vai querer atuar sabendo que estará sendo monitorado e que, com maior facilidade, vamos conseguir identificá-lo. Isso é muito importante. Não tem como em 2024 nos esquivarmos da tecnologia. A tecnologia, quando bem utilizada, é fundamental. Vejo muitas críticas a essa geração, mas não podemos viver alienados e achar que isso é ruim, que devemos voltar lá na década de 80 ou 90. O criminoso está usando tecnologia. Se as forças policiais e as pessoas de bem não acompanharem essa evolução, vamos perder esse combate. É muito importante. A polícia trabalha em cima desse tipo de investimento e hoje conseguimos suprir um déficit de efetivo, graças a esse incentivo na área da tecnologia. Temos um trabalho da Polícia Militar, o programa Vizinhança Solidária, que consiste em pegar determinados moradores de uma região, dividimos por bairros ou pela área rural, e inserimos esses moradores em um grupo de WhatsApp. Estimulamos neles o sentimento de pertencimento social, de que são responsáveis por cuidar daquele pedacinho de terra, daquela rua. Em São Paulo, por sete anos, corri e desci do prédio, mas não sabia quem eram os vizinhos. Aqui, isso é possível, e até hoje sei quem são todos os moradores da rua onde morei no Central Park e da rua que moro hoje. A polícia incentiva isso nos moradores através desse programa. Muitas ações da Polícia Militar estão pautadas nesse cenário de tecnologia, nesses investimentos, e graças a isso temos conseguido nos manter à frente dos criminosos e controlar nossos indicadores.
JC: Com relação a questão de furtos de veículos e de imóveis, quais as ações para reduzir esses tipos de ocorrências?
L: Uma ação muito importante é a orientação. Eu lembro quando cheguei em Batatais em 2018, tivemos três surtos de furto de veículos em uma semana na área central. Fazendo uma análise, os três veículos estavam com a chave no contato. É aquela situação de “ah, eu vou rapidinho, descer aqui no banco, é cinco minutinhos. Olha só, vou pagar um boleto aqui, é muito rápido”, deixam a chave no contato e o criminoso precisa de poucos segundos para subtrair um veículo. Assim, começamos um trabalho de conscientização e educação da população de que mesmo numa cidade do interior, o crime acontece. Se na capital as pessoas estão se policiando, por exemplo, segurando o celular com as duas mãos, no interior, se falarmos de qualquer jeito e acharmos que o bandido está longe, baixamos a guarda e nos tornamos vulneráveis. Então, é muito importante essa educação da população e orientá-los quanto a ações preventivas que contribuem para que o criminoso não tenha facilidade no cometimento do crime. Esse direcionamento do nosso efetivo é feito através de análise operacional. Sobre esses indicadores especificamente, se você pegar Batatais de 2012 a 2019, nunca tivemos menos de 50 furtos. Em 2014, tivemos 121 furtos registrados. Em 2015, foram 86. Agora, em 2024, estamos com uma projeção para 33 furtos. Esse trabalho de conscientização, o direcionamento do policiamento e o incentivo dos grupos de vizinhança solidária, têm surtido um efeito positivo. Mesmo furtos relacionados a residências, se pegarmos de 2003 a 2011, nunca tivemos menos de mil furtos outros por ano em Batatais. Este ano, estamos com uma projeção para 543, ou seja, quase a metade do que enfrentávamos no ano passado. Temos conseguido, sim, com inteligência, dedicação e policiamento direcionado. O policial segue um cronograma, uma rota para direcionar seu policiamento. Temos conseguido manter uma situação de tranquilidade e a ordem pública.
JC: Problemas localizados com tráfegos de drogas, nos prédios de apartamentos, principalmente, o que tem sido feito para coibir esse tipo de crime?
L: O principal programa da Polícia Militar no combate às drogas, dentro do que eu falei, que acredito mais na educação do que na repressão, é o Proerd. O Proerd insere um militar nas escolas para reeducar nossos jovens, evitando a necessidade de correção aos adultos. Tentamos plantar a semente de boa educação e deixar claro os malefícios que as drogas causam. Além disso, fazemos diversas palestras nas escolas e buscamos realizar campanhas mensais, inserindo-nos no contexto estudantil para ocupar esse espaço, não permitindo que seja ocupado por criminosos. Mais especificamente, em relação à parte operacional, temos ações todos os dias no combate ao tráfico de drogas. Até setembro, foram 113 ocorrências envolvendo porte de drogas e 50 flagrantes de tráfico aqui em Batatais, totalizando mais de 150 ações relacionadas ao tráfico. Mais de 90 pessoas foram presas em flagrante por crimes relacionados ao tráfico de drogas. Direcionamos nossa energia para o combate, mas há a necessidade de a engrenagem sempre funcionar. A Polícia Militar faz a sua parte, esforçando-se para não permitir que se sintam confortáveis no tráfico e na venda. É muito importante que haja investimento em infraestrutura, educação e uma investigação criteriosa para chegar aos verdadeiros chefes do tráfico. Com todos trabalhando juntos, conseguimos enfrentar um dos maiores males da nossa sociedade. O tráfico de drogas abre portas ao cometimento de diversos crimes. Muitos furtos e roubos estão intimamente relacionados ao uso de drogas e à necessidade de dinheiro para comprar mais. Precisamos combater, e estamos fazendo isso.
JC: Com relação a atividade delegada, como tem sido essa parceria com o poder público para ampliar o número de policiais nas ruas?
L: Essa foi mais uma conquista histórica para Batatais. Conseguimos, nessa última gestão com o prefeito Juninho, colocar em prática a atividade delegada no município. O que é atividade delegada? O Estado, representado pelo policial militar, recebe por delegação algumas atribuições de competência municipal. Assim, o município delega a um ente do Estado a incumbência de fiscalizar estabelecimentos comerciais e intensificar o patrulhamento em áreas de interesse público. Com isso, conseguimos aumentar quase 100% da nossa capacidade operacional. Hoje, todos os dias temos policiais escalados na atividade delegada, conforme planejamento prévio acordado entre nós e o chefe do poder executivo, sempre avaliando os indicadores criminais para determinar o melhor horário para o emprego desses policiais, o que tem sido fundamental para manter a normalidade. Foi uma conquista muito grande para o município e aqui em Batatais estamos vivendo um momento positivo nessa integração entre todos os responsáveis pela segurança e outros segmentos. Temos um trânsito fácil com a administração municipal e o poder judiciário, o que se reflete no bom serviço prestado. Entretanto, uma dificuldade que enfrentamos são as redes sociais, que às vezes geram uma falsa sensação de insegurança. Trago dados que mostram que estamos vivendo o melhor momento histórico em relação à segurança pública. De 1996 a 1999, a taxa média de homicídios no estado de São Paulo era de 49 mil por ano. De 2020 a 2023, essa média caiu para aproximadamente 11 mil por ano, ou seja, quase uma redução de 40 mil homicídios. Em Batatais, tivemos uma redução na média histórica de roubos e furtos. Todos os nossos indicadores estão em queda. O que mudou? O que gera essa sensação de insegurança? O furto que acontecia em 2002, sem WhatsApp e Instagram, tomava uma proporção diferente. Hoje, acontece um furto, e isso toma uma proporção gigantesca. Um furto ocorrido gera comentários nas redes sociais, e todos falam: “Nossa, tá terrível! Meu Deus, mais um!” É importante essa oportunidade de esclarecer. Analisando os números disponíveis na Secretaria de Segurança Pública, observamos que estamos vivendo um momento favorável, mas essa sensação de insegurança, quando potencializada nas redes sociais, pode atrapalhar. O criminoso, vendo isso, se encoraja. Ele percebe que em Batatais estão falando sobre crimes e pode se sentir à vontade para agir aqui. As informações precisam ser divulgadas, mas devem ser fidedignas. Uma informação mal vinculada gera um prejuízo grande para a segurança pública.
Por fim, o Tenente Lucas Sançana reiterou que fica muito satisfeito de poder ter um contato próximo com a comunidade: “Isso nos engrandece, isso nos tira, como eu disse, da zona de conforto, faz a gente tentar sempre se reinventar e pensar em alguma coisa positiva”.