A reportagem do JC conversou com o médico Dr. André Domingos Pippa Tomazella. O Cirurgião Geral e Gastroenterologista há 34 anos, querido da nossa comunidade, é o presidente da Unimed Batatais e diretor-presidente da Unimed Federação Regional do Nordeste Paulista. O assunto em pauta foi o combate ao Covid-19, o novo coronavírus. Dr. André que foi Diretor de Saúde tem conhecimento amplo para comentar sobre as ações que estão e serão implementadas nesse período de pandemia.
JC – Dr. André, como a Unimed vem se preparando para atender os casos de coronavírus?
Dr. André: Nós fizemos um protocolo de atendimento dentro do Centro Médico. Nesse protocolo começamos a usar principalmente o telefone para orientação e as pessoas têm colaborado e muito com isso. Eles ligam primeiro antes de ir até o Pronto Atendimento, com isso não tem um acúmulo de pacientes lá, onde evitamos a propagação do vírus e orientamos a ficar em casa. Caso haja piora desse quadro também é para ligar que orientamos o atendimento, e, se for o caso, quando já vier para o Pronto Atendimento para fazer essa avaliação, já temos um protocolo interno, um fluxo de atendimento. É para a pessoa ser isolada internamente e com todos os cuidados tanto para o grupo de enfermagem, como para o médico, para o paciente e aqueles que lá estiverem não se contaminarem. Então, nós nos preparamos, tivemos algumas reuniões, e eu acho que a gente está bem firme nisso aí.
JC – Quais as recomendações que os pacientes vêm recebendo, para evitar um número elevado de pessoas no Pronto Atendimento?
Dr. André: Nós temos feito dentro da nossa possibilidade, comunicações através da imprensa, orientações que podemos fazer por via fonada, via internet e no nosso site também. Ficamos muito felizes pela compreensão dos nossos clientes em saber que hoje o Pronto Atendimento ou o Centro Médico está realmente voltado ao atendimento do coronavírus para que evite as pessoas que não tem um grau de urgência de se dirigir até lá. É lógico que uma cólica de rim, uma apendicite, um infarto, isso tudo continua tendo e continuamos atendendo sem problema nenhum. Mas uma consulta de rotina, como ‘estou com dor nas costas duas semanas’, ‘bati o dedão e machuquei faz três semanas’, essas coisas está havendo a compreensão dos nossos clientes e com isso o Centro Médico pode proporcionar um atendimento mais especializado e mais correto para aqueles que estão com o Coronavíruis e precise do nosso atendimento.
JC – Vocês mudaram alguns procedimentos buscando proteger pacientes e equipe de atendimento?
Dr. André: Sim, dentro do Centro Médico, no nosso Pronto Atendimento colocamos um fluxo diferente das pessoas. Nesse fluxograma, o paciente chega e já é colocada uma máscara nele e a equipe o leva para uma sala específica, onde são feitos os exames necessários. Os pacientes recebem todas as informações e aqueles que porventura não evoluírem mal e estiverem bem, são orientados para aguardar em casa. Esse é o protocolo que está sendo feito em todo o mundo. Qualquer coisa liga e a gente vai orientando. Se houver uma insuficiência ou dificuldade respiratória que necessitar de internação ele será deslocado para internação na Santa Casa. Avisamos a Santa Casa, ela já se prepara para receber esse paciente tudo dentro de um processo de um fluxo que tá sendo organizado.
JC – A questão do isolamento social tem de fato ajudado, na sua opinião?
Dr. André: A questão do isolamento social é imprescindível. Se assim não fosse o mundo não teria adotado essa medida. Se você lembrar, no começo dessa pandemia lá na China eles isolaram a cidade inteira de Wuhan, não entrava e não saia ninguém. Eles pediram o isolamento social dentro da própria comunidade que é uma das armas que nós temos, alias, é uma das poucas armas que nós temos para evitar o contágio. Então, eu acho fundamental, é lógico, que se você for analisar pelo aspecto econômico é muito difícil um país ficar parado totalmente, agora mesmo vai começar a faltar insumos e tudo mais. Então, precisa buscar agora, esses dias, o meio termo a meu ver. Acredito que esse meio termo seria para as empresas voltarem a funcionar, com o mínimo de pessoas saindo de suas residências, com menos reuniões, encontros em chácaras, reuniões de trabalho, tem evitar realmente isso. As empresas que puderem dispensem os funcionários com mais de 60 anos, mas não é para fazer festinha, não é férias, esses funcionários devem ficar em casa, quietinhos em casa, sendo para aqueles que puderem que coloquem em home office, para trabalhar através do computador. Esses cuidados eu acho que deve se prolongar um pouco. Já a economia, ela vai ter que voltar a andar um pouquinho porque agora mesmo falta a máscara, falta respirador, vai faltar até o potinho da marmita para você levar para casa. Então, precisa esses 15 dias que julgo fundamentais, depois disso a gente tem que nos readequar, não estou dizendo para vai voltar tudo ao normal, voltar tudo aquela ‘balela’, não, devagar, acompanhando a epidemiologia da doença, a evolução da doença e vai abrindo as coisas devagar.
JC – Como vemos diariamente os números e, os impactos na sociedade, em países de primeiro mundo, acaba por colocar os brasileiros muitas vezes em pânico. O Sistema de Saúde do nosso país, público e privado, tem fôlego para suportar uma evolução rápida da doença?
Dr. André: Nós temos algumas vantagens e algumas desvantagens. Primeiro, vamos falar do sistema suplementar que seria Unimed e outros planos de saúde. Nós da Unimed estamos em 86% do território nacional, todo lugarzinho praticamente tem uma Unimed, isso chama-se capilaridade, isso nenhum plano de saúde tem. Se você olhar hoje na mídia, o único plano de saúde que está se preocupando e se preparando intensamente para absorção desses clientes do coronavirus é Unimed. Porque? Por que a Unimed, ela tem uma função social importante. Aliás, o sistema cooperativista é uma função social importante, então as pessoas vão começar a ver a diferença de ser um cooperativista ou não ser um cooperativista. Nós temos uma responsabilidade com a sociedade, então na saúde suplementar a gente tem se preparado, temos feito uma leitura da região, quantos leitos de UTI tem, quais os hospitais próximos que nós temos e tudo mais para que a gente tenha um fluxo de pessoas, um trânsito de pessoas, entre todas essas estruturas para aliviar um pouco mais essas questões até do SUS. A gente precisa ter uma parceria SUS e sistema suplementar. O sistema público de saúde também tem essa capilaridade, ele está no país inteiro, essa é uma característica que o Brasil tem, apesar de ser um sistema subfinanciado, quer dizer com pouco financiamento, apesar de você ter uma estrutura em vários aspectos falhos, o Sistema está aí para dar uma sustentação e um conforto para a população e tem feito o seu papel nessas crises. A nossa sorte é de termos um Ministro como Mandetta, com uma formação intelectual muito boa, com a formação médica muito boa, que inclusive foi presidente da Unimed de Campo Grande por duas gestões e secretário de saúde do seu município durante 4 anos. Ele foi deputado, onde conhece bem aquela Câmara Federal como poucos e agora chegou no Ministério. Então eu acho que nós temos essa vantagem. Ele tá aguentando bem essa pressão toda sobre ele com a conduta retilínea, correta, acreditando naquilo que está fazendo, acreditando na equipe dele, não sendo personalista. Ele tem uma equipe que dá suporte e isso é o mais importante. E eu tenho muita esperança de que ele vai sair fortalecido de toda essa crise, que não vai ser fácil, que está começando apenas, e não politicamente, mas fortalecido como pessoa, como um exemplo de conduta ética dentro de um Ministério tão difícil como é o da Saúde.
JC – Ter menosprezado o poder de transmissão rápida do novo coronavírus pode ter sido o grande problema em muitas cidades, estados ou até países até agora?
Dr. André: O que aconteceu na verdade é que o Brasil vem fazendo já com o Ministério da Saúde, com as Secretarias de Saúde do Estado uma leitura dessa evolução do vírus ao longo desse tempo que surgiu a partir da China. Na verdade não tem uma surpresa, por isso que o Ministro Mandetta sempre coloca a questão do planejamento, dos estudos realizados. Eles sabiam desse impacto que iria ocorrer. O que eu acho que ficou um pouco vago é que alguns estados quiseram sair na frente pela angústia de tentar resolver e esqueceram que se talvez tivessem feito uma coordenação melhor, em nível nacional, a gente poderia ter feito uma coisa com maior impacto. É um erro que vai acontecer em outros países também porque envolve o processo político, envolve o processo de logística de cada estado, envolve processos de portos e aeroportos, transportes, então a gente não pode subestimar a capacidade deste vírus de se propagar, precisa realmente ter muito cuidado com isso.
JC – Como médico experiente, que já esteve a frente da Secretaria de Saúde da cidade, qual análise que faz desse momento? Onde os equipamentos públicos e privados de saúde precisam ampliar sua capacidade de atendimento para atender sua demanda normal, somada aos casos que possivelmente serão notificados em Batatais.
Dr. André: É uma pandemia. Ninguém está preparado, nenhum sistema de saúde no mundo está preparado para uma pandemia, ninguém vai ter leitos de UTI sobrando, para deixar esses parados esperando uma pandemia. Então, por isso que volto a insistir que precisa haver planejamento e como isso chegou o Ministério da Saúde, que havia estudado bem todos esses critérios, mas não pode ter o envolvimento político nessa hora. O sistema tem que entender que a política, ela tem que ser discutida, mas no momento correto e acabar com a ciumeira disso ou daquilo. Precisa sentar, conversar e fazer o correto, há diferenças entre opiniões, isso é comum, mas que se feche numa sala, ou numa vídeo conferência, e resolva o problema, porque na verdade se você tiver uma dicotomia, cada um para um lado, todo mundo vai bater cabeça. Eu acho que a gente deveria ter um pouco mais de sensibilidade para a própria população, o próprio povo. Não gosto muito dessa palavra povo. Por que os populistas usam o nome povo, uma coisa é povo, não, são gente, são pessoas, né? As essas inclusive precisam manter uma análise criteriosa, não se deixar envolver, não ficar entrando em internet, google, siga uma linha de conduta ou de informação, você tem informação 24 horas na TV, no rádio, no jornal, sigam uma linha, por exemplo: ‘lá no norte acharam um chá que sara’, ‘lá usaram…’. Para. Calma. Vamos seguir uma linha. Vocês viram que o que aconteceu com a Cloroquina, quer dizer que estão fazendo estudos ainda, tem alguns casos que estão evoluindo bem, mas não são todos que estão evoluindo bem. Medicina não é assim, vai ter um remédio que vai fazer bem para 30% e mal para 70% e isso tem que ser analisado ao longo do tempo. Existe alguma esperança com a Cloroquina e estão investindo nisso, Estados Unidos, maciçamente, aqui no Brasil também, estudos já dentro de hospitais de grande porte. Então, tenha calma, essas coisas não adianta sair correndo comprando Cloroquina, Azitromicina, sei lá o que mais o que vão encontrar, chá da noite, chá da manhã, chá sei lá da onde?, calma, siga linha, veja a transparência do Ministro que está sendo colocado diariamente nas suas entrevistas. A equipe também lá do SUS com uma transparência pelo menos é aquilo que estão nos mostrando. Então acho que tem que ter calma, tudo vai evoluir bem, com cuidado, com segurança e tudo mais, mas tenham calma.
JC – Qual mensagem que deixa aos batataenses nesse momento de expectativa e, muitas vezes, de medo?
Dr. André: Evite aglomerações, evite fazer festinhas em chácara. Entendam, vocês estão ali no grupo de pessoas que pode ser transmitido. Fiquem em casa a maior parte do tempo, lavem bem as mãos, evitem cumprimentos calorosos, como é próprio do brasileiro dar beijinho, abraçar, né? Isso é do Latino, não tem problema nenhum, daqui a pouco a gente está voltando as nossas características, segurem um pouco. Eu acho que isso é o que nós podemos fazer, cada cidadão tem a sua responsabilidade nessa hora, então, evitem pânico, evitem troca de informações por WhatsApp, por Facebook, por Instagram, que não refletem a verdade. Isso causa uma comoção, causa pânico na sociedade que não vai levar nada, pelo contrário, vai só atrapalhar. Então reflitam sobre isso, pensem com calma, eu sei que é difícil muitas vezes trazer um equilíbrio nessa hora. Tenham cuidado com os mais velhos, isso é fundamental, se você costuma ir na casa da sua mãe todos os dias para vê-la, deixe de vê-la, vá até na porta e fique a quatro, cinco metros, fala oi de longe. Se você estiver resfriado não vá até lá. Peça para que a vacinação seja feita nos seus familiares, no seu pai, na sua mãe e nos seus avós entende. Eu acho que esses cuidados. A sociedade precisa, cada um precisa ter a sua responsabilidade. É uma coisa própria, a responsabilidade pessoal e daí a gente vai fazendo uma cooperação mutua entre nós. Talvez isso que vem acontecendo vai trazer para gente uma sociedade melhor no futuro sabendo que precisa cooperar. Todo mundo precisa cooperar, as amizades não são de Facebook, as amizades não são de Instagram, as amizades não são dos grupos de WhattsApp. Então, a gente precisa entender que talvez a sociedade mude depois de tudo isso que está acontecendo e volte a ter alguns valores que se perdeu ao longo do tempo.