Por: Luis Henrique Camargo

Até o fim do século XX, os brasileiros praticamente só conheciam as cervejas chamada ‘Pilsen’. Eram responsáveis por praticamente tudo que era vendido no Brasil e que tecnicamente nem é correto serem chamadas por ‘Pilsen’, e sim pelo nome oficial do estilo: ‘American Lagers’. As American Lagers são cervejas suaves, feitas com mistura de malte de cevada e cereais não maltados como milho ou arroz, e pouco lúpulo. Possivelmente muitos devem ter ouvido falar da Lei da Pureza Alemã, chamada de Reinheitsgebot, que determina que as cervejas devam ser produzidas apenas com água, malte, lúpulo e levedura. Mas estas cervejas American Lagers ou ‘tipo pilsen’ não seguem esta tradição. Algum problema? Vejamos…
O malte tem importância fundamental no sabor, aroma, corpo, cor e logicamente na graduação alcoólica da cerveja. A utilização de ingredientes como milho e arroz, às vezes criticada, permite que a cerveja tenha um corpo mais baixo, mantendo a graduação alcoólica e mais adequado ao paladar daqueles que gostam de tomar cervejas em ‘toneladas’. O lúpulo traz também aromas e sabores distintos, mas principalmente o amargor e ajuda significantemente na conservação da cerveja, por ser um conservante natural. Mas, para termos cervejas de baixo custo e principalmente leves, as cervejarias necessitam usar pouco lúpulo, maltes mais baratos e cereais não maltados. Com isto afetam a durabilidade da bebida e a estabilidade da espuma. Outro ponto fundamental para baratear a cerveja é a produção em grandes escalas. Seria muito caro para empresas como a Ambev, Heineken, Petropolis etc, terem fabricas para abastecer localmente, pois necessitam de produção em grande escala para minimizar custos. Por isto estas empresas utilizam de grandes fabricas localizadas em pontos estratégicos, mas que obrigam a necessidade de longos trechos transportados e armazenamentos normalmente feitos incorretamente, prejudicando o sabor e frescor das cervejas. Então as grandes cervejarias, para poderem fornecer cervejas de custo baixo, necessitam adicionar aditivos como anti-oxidantes, estabilizantes, conservantes, que além de não serem naturais como malte e lúpulo, sempre adicionam sabores não agradáveis a nossa cerveja. Brilhantemente as grandes cervejarias driblam a necessidade de utilizarem tantos aditivos maléficos ao paladar e a pouca presença de lúpulo e malte, jogando com a publicidade que cerveja deve ser tomada estupidamente gelada (a -4oC). A lógica das cervejarias é que nestas temperaturas nosso paladar não distingue sabores, então ficamos apenas com a refrescância e o benefício (em quantidades moderadas) do álcool.

No final dos anos 90 iniciou no Brasil o que conhecemos como Revolução da Cerveja Artesanal. E os brasileiros começaram enfim a conhecer as cervejas tipo Ale, já bastante difundidas na Europa e USA. Caracterizadas por leveduras que atuam diferente das leveduras Lagers, fermentando com temperaturas mais elevadas e trazendo as cervejas mais aromas e sabores, as Ales também ajudaram a valorizar a imaginação aos nossos cervejeiros incluindo experiências bem sucedidas e redescobrindo as próprias Lagers. As palavras IPAs, Weiss, Wit, Stout, Porter, etc, aos poucos foram sendo conhecidas pelos brasileiros e hoje em dia qualquer estabelecimento comercial que queira apresentar um bom serviço de bebidas a seus clientes, não perguntam mais se o cliente quer ‘claro ou escuro’, mas ‘algum estilo preferido’? Além de que as Ales, com sua facilidade em serem produzidas e o incentivo a imaginação e criação, permitiram que o brasileiro descobrisse que é fácil fazer cerveja em casa. E boas cervejas!

Atualmente muitos conhecem pelo menos um amigo ou parente que faça cerveja em casa e deste hobby muito se aventuram na produção comercial. Uma verdadeira explosão de nanos e micros cervejarias surgiu no Brasil. Há 10 anos eram menos de 200 cervejarias no Brasil legalizadas e hoje já são mais de 1000. Esta proliferação de cervejeiros e cervejarias está possibilitando um outro movimento conhecido como ‘Beba Local’. Praticamente em todas as regiões do Brasil sempre encontraremos uma cervejaria, mesmo que pequena, produzindo e distribuindo boas cervejas artesanais e sem os aditivos químicos e não naturais. Com baixo custo pois não utilizam sistemas caros de distribuição e nem trabalham com caras campanhas publicitárias.
Esta verdadeira ‘revolução’ cervejeira também está forte em nossa cidade

Mais conhecidas e estruturadas, as Cervejarias Mithica e Batataes produzem cervejas regularmente com ótima qualidade e já são presença constantes em feiras, eventos e supermercados. Outras cervejarias comandadas por entusiastas e estudiosos cervejeiros Batataenses vão ganhando vida e admiração. Nomes como a Alqbier, Cabala, MacCoy, Muralha, Oráculo, Will Bier, etc prometem manter a tradição de boas cervejas locais para nossa cidade. Para os que desejam conhecer as cervejas frescas e produzidas não apenas em Batatais, mas em outras cidades da região, vale a pena conhecer a tap house Let it Beer. Atualmente as cervejarias artesanais produzem cervejas para todos os gostos, desde cervejas com mais de 14% de álcool e muito encorpadas como as Russian Imperial Stouts, como as amargas IPAs, leves ‘Pilsen’ ou mesmo Ales mais suaves, mas sem a necessidade de adjuntos químicos. E sim, é possível tomar cerveja artesanal com baixo custo. Muitos estabelecimentos comerciais em Batatais estão investindo na diversificação de sua carta de cervejas. Pressione o seu bar preferido a fornecer cervejas locais, sem aditivos não naturais, e apreciem o delicioso sabor que só podemos ter na cerveja fresca, além da valorização de cervejeiros de Batatais. É bom para nossa economia, para teu paladar e principalmente para tua saúde! Cheers!