Desde o século passado, precisamente na década de 90, Ricardo Antunes, importante sociólogo brasileiro, dedicado ao estudo da temática emprego e trabalho, em seu livro “Adeus ao trabalho? Ensaio sobre as Metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho”, publicado em 1998 e ainda, deveras atual, aborda a questão que hoje nos dispomos analisar de forma breve.
Desde meados de 1970 acontecem de forma mais acentuadas, mudanças no mundo do trabalho. Claro, essas mudanças, impactam diretamente à vida das pessoas e à sociedade como um todo, os países, continentes, o mundo de forma geral.
Os países capitalistas centrais, ou seja os mais importantes do mundo, para manterem-se competitivos, diminuíram fortemente os direitos e as conquistas dos trabalhadores, obtidas ao longo de décadas. Aconteceu a crise do Welfare Styate [estado de bem estar social], havendo assim, diminuição dos mínimos sociais garantidos nas áreas de saúde, educação, segurança, habitação etc. O capitalismo contemporâneo é marcado por um modelo destrutivo, como Antunes diz: “trata-se de uma aguda destrutividade […] destrói-se a força humana que trabalha”. Como sabemos na própria carne, os direitos sociais são destruídos ou fragilizados, homens e mulheres são brutalizados, a natureza é ainda mais deteriorada, ganha destaque a sociedade do descartável, em que embalagens e trabalhadores (as) são descartáveis. Esses trabalhadores perdem seus postos de trabalho para as máquinas e tecnologias, para os trabalhadores terceirizados, quarteirizados e dai por diante, são demitidos e não conseguem, na mesma proporção, serem reempregados e voltarem ao mundo do trabalho. Dá – se o nome de “classe que vive do trabalho”.
Vivenciam sofrimento físico e psíquico, de maneira ou pelo fato que, as relações familiares, já foram afetadas. Existem casos em que a problemática familiar ganha vulto em razão da existência de desarmonia também pela falta de dinheiro, a tensão costumeira, a entrada do álcool ou drogas, até a dissolução da sociedade conjugal. Pesquisas mostram que inúmeros moradores de rua, tiveram suas histórias de vida marcadas por um divisor de águas: o antes e o pós desemprego do pai de família e mantenedor da casa.
Nos dias atuais, as metas impostas pelas empresas, são determinadas por um processo de gestão chamado de reengenharia ou também como empresa enxuta, o que ocasiona uma crescente diminuição da classe trabalhadora estável [mensalista]. Crescem em números os trabalhadores chamados de subproletariado fabril e de serviços, e também chamado de trabalho precarizado. Trata-se dos trabalhadores terceirizados, subcontratados part-time, que aumentam em diferentes partes do mundo. Percebe-se que jovens sem experiência e pessoas a partir de 30 ou 40 anos encontram dificuldades para empregar-se, sendo que estes não entram ou são postos para fora das empresas, subentendendo não possuírem a experiência profissional necessária ao desenvolvimento das funções ou, terem alcançado idade avançadas e portanto, inadequada.
Não é afirmado que a classe trabalhadora acabará, as condições de trabalho é que mudaram e mudam para condições diferentes para os trabalhadores. O trabalho estável, hoje é insuficiente, sendo que esse trabalho motiva, inclusive, o processo migratório internacional e nacional, disputando as mesmas vagas.
Diminue-se o número de postos de trabalhos, decai a relação de emprego. O trabalho autônomo ganha lugar. O mercado informal de trabalho é merecedor de destaque, porém o que se comprova no Brasil, na atualidade, é que esse vem perdendo forças, no sentido de que as pessoas que migraram do mercado formal para o informal, em razão da concorrência existente também nesse tipo de mercado, percebem que mesmo com o empreendedorismo recomendado, com a qualidade dos serviços e produtos oferecidos, a preços mais acessíveis, mesmo assim, a engrenagem não roda como deveria, existe menos dinheiro para maior número de pessoas.
Crescem os bolsões de pobreza nos países ricos e nos pobres. O desemprego existe na maioria dos países, profissões são extintas e outras surgem com grandes exigências aos trabalhadores de forma a excluir grande número desses. Nos países periféricos, então chamados de “terceiro mundo”, pasmem, a cada três pessoas, duas vivem em situações precárias.
Qual a solução? Qual a saída? Existem estudiosos que já defenderam a tese de que, uns deveriam trabalhar menos horas por semana, para que outros pudessem também ter a possibilidade do emprego. Chamam a realidade acima exposta de barbárie do desemprego.
Disse no início que faríamos uma breve análise do mundo do trabalho. Considere este tema muito interessante, assim, seria necessário maior tempo e espaço gráfico para a abordagem do tema. Creio que existem pessoas que possam discordar do exposto, por isso, enfatizo não se tratar de uma visão pessoal, mas embasada em dados nascentes de abordagem teórica atual e consistente.
Em destaque à matéria contida no Jornal O Estado de São Paulo, datado de 02 de junho de 2019, existem em nosso país 13,4 milhões de desempregados de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), sendo que desses 635 mil, em razão de idade, baixa capacitação profissional, dentre outros motivos, possuem poucas oportunidades de serem inseridos no mercado de trabalho e o fato seríssimo é que esses números representam o dobro do registrado no mesmo período de 2014, antes da recessão.
Gostaria de ter abordado este assunto de forma mais leve e otimista, mas a leitura e nossa formação acadêmica e cidadã, não nego, nos deixa tanto quanto pessimista, dependendo dos olhos que leem esses e outros escritos. Pensemos nisso!