Caro leitor, para dar continuidade ao tema A HISTÓRIA DOS TEATROS MUNICIPAIS DE BATATAIS, nada mais justo do que tratar dos artistas que eternizam o nosso atual teatro municipal, que, como templo das artes cênicas, tem como seu patrono, um verdadeiro construtor das artes, o artista multifacetado, FAUSTO BELLINI DEGANI, muito bem apresentado, num trabalho acadêmico, por uma de suas netas, cantora lírica, Márcia Degani, “meu avô foi violinista, compositor, cantor, ator, roteirista, poeta, artista plástico e promoveu eventos culturais e artísticos na cidade de Batatais, que fica no interior de São Paulo (…)” recebeu esta homenagem “pelo reconhecimento aos benefícios de ordem cultural e artística, que trouxe para a cidade, através de ações voluntárias”. (2013, p.17)
Fausto Bellini Degani, nasceu em Batatais, no mês de maio de 1911, numa família de sete irmãos. Seus pais, italianos natos, foram Ernesto Degani e Emi Belini Degani. Do pai aprendeu o ofício de construtor e da mãe, o dom e gosto apurado para o mundo das artes musicais. Todos os irmãos de Fausto herdaram o gosto pela música e tocavam algum instrumento.
O primeiro instrumento que Fausto aprendeu a tocar de ‘ouvido’ foi o violão, que pertencia ao seu irmão mais velho, de codinome ‘Hugo’. Em desobediência ao irmão e apoiado pela mãe Emi, só tinha acesso ao instrumento quando o irmão estava ausente de casa.
Tornou-se músico por vocação e profissão, compositor e multi-instrumentista desde a tenra idade. Tocava vários instrumentos de corda, como violão, banjo, bandolim e também instrumentos de sopro e percussão. Como compositor e músico foi um amante dedicado e delicado da cultura brasileira, ao escrever e musicar canções relacionadas ao imaginário popular e folclórico, produziu valsas, valsinhas, toadas e os mais diversos tipos de samba. Suas composições mais conhecidas foram ‘Lobisomem’, ‘O Saci’, ‘Carro de Boi’, ‘Reminiscências’, ‘Homenagem ao Rio’, ‘Alma de Poeta’ e ‘Volta Poeta’ (homenagens a Noel Rosa), ‘Noite Enluarada’, ‘Dylmare’, ‘Olhos Tristes’, ‘Saudades de Ibirá’, ‘Miss Paulistinha’ entre outras. A maioria orquestrada pelo maestro Alfeu Ribeiro. Em Batatais e em outras cidades, participou da formação de diversos grupos musicais, bandas e trios. Conheceu muito do Brasil em suas viagens de apresentação.
Anos mais tarde, em 1965, teve a oportunidade de ver algumas de suas composições no livro ‘Juventude, Canta para escolas secundárias’, da Irmã Salesiana Maria José Clímaco Ferreira, publicadas pela então Editores Irmãos Vitale.
Afim de expandir seus anseios profissionais e os ligados a música, Barretos foi escolhida para sua estadia mais longa, entre as décadas de 30 e 40. Além de ter sido o local onde deu início à sua própria família em 1939. Casou-se com Dylmare Pereira e desse enlace amoroso, o casal teve quatro filhos Gilka, Gilberto, Gilda e Fausto, sendo que os três primeiros nasceram em Barretos.
A família Degani coleciona histórias de amor apaixonantes, como a do próprio Fausto que conheceu a esposa Dylmare, ainda criança, por volta dos nove anos, por intermédio de um colega de trabalho, Agostinho, do Frigorífico Anglo S/A em Barretos, que vinha a ser irmão de sua futura esposa. Fausto esperou a linda menina crescer. Quando esta se transformou numa bela jovem, ela com 16 anos e ele com 28 anos, celebraram as núpcias.
A história do encontro dos pais de Fausto, Ernesto e Emi, parece ter sido também promovida pelo destino. Sua mãe, Emi Belini, fora entregue à roda dos expostos (uma das formas de acolhimento de bebês abandonados) num convento na Itália, por conta das convenções da época. Sua mãe biológica teria sido uma modista da alta costura, abandonada grávida pelo namorado. A mãe de Ernesto (que viria a ser pai de Fausto) adotou a criança, porém tão logo ao ocorrido, boa parte da família (inclusive Ernesto) veio emigrada para o Brasil. Os filhos não tiveram contato com a menina que ficou na Itália. Quando jovem, por volta dos 20 anos de idade, Emi, também decide morar no Brasil e ‘conhece’ Ernesto. Apaixonados casaram-se na cidade de Batatais.
Fausto foi trabalhador, dinâmico e empreendedor na nova cidade onde ajudou a fundar a emissora de Rádio Barretos PRJ – 8 (extinta), a Associação dos Empregados do Comércio (fundada em 21/01/1936), a Associação de Teatro Amador do Frigorífico Anglo S/A de Barretos, participou da ‘Companhia Circo-Teatro Landa Lopes’ como ator e músico junto com sua companheira. Em 1943 aproximadamente, o casal seguiu a Companhia por Minas Gerais por quase quatro anos, quando já tinham dois filhos, Gilka (mais ou menos com 3 anos de idade) e Gilberto (com poucos meses de vida). A cada parada em uma nova cidade, Fausto aproveitava sua outra profissão, a de pedreiro, e fazia diversos ‘bicos’ para ajudar na renda da família, que já era escassa.
Em 1946, com Dylmare grávida da terceira filha do casal (Gilda) e cansada da vida itinerante do circo-teatro, o casal voltou para a cidade onde os pais da esposa residiam, Barretos. No final da década de 40 decidiram morar em Batatais, onde Fausto poderia exercer o ofício de construtor, mas sem abandonar, contudo, sua paixão pela música. Durante a década de 50, foi mestre de obras na construção do antigo Instituto Agrícola de Menores de Batatais (IAMB)/FEBEM UE-4 e ajudou na construção da Igreja Matriz, o atual Santuário Bom Jesus da Cana Verde.
Neste tempo, pela sua simpatia e boa comunicação tornou-se próximo ao pintor Cândido Portinari durante a construção da nova Matriz, o que fez dele um curioso e conhecedor das obras pictóricas do renomado artista, capacitando-o como guia cultural do acervo da Igreja Matriz, na cidade de Batatais. Como guia cultural eventual, recebeu acadêmicos, artistas e políticos, além de participar de gravações de reportagens sobre o acervo Portinari no templo religioso. Com isso, ajudou a dar maior destaque ao artista batataense também de renome internacional, Mozart Pelá que possui uma obra na dita Matriz.
Entusiasta nato, em Batatais foi um dos fundadores, em meados dos anos 60, da famosa Sociedade Pró-Arte. Graças ao seu prestígio e competência foi também diretor artístico da Rádio Difusora de Batatais e da ABR Operária.
Ainda no campo das artes, guiado pelo dinamismo da juventude, envolveu-se nos movimentos artísticos estudantis e com maior afinco apoiou eventos culturais e os pequenos grupos de teatros amadores das escolas da rede estadual da nossa cidade.
Dedicou-se também a coletar e colecionar raízes, troncos e galhos, dos quais as suas formas curiosas, lembravam objetos, animais, aves e/ou pessoas, que como explicou sua filha Gilka, chamavam de “caprichos da natureza”.
Faleceu repentinamente, aos 58 anos, em julho de 1969, curiosamente na cidade que foi seu segundo lar, Barretos, quando fora contratar um grupo de catireiros mirins para apresentação na II Festa do Leite de Batatais, realizada à época nas dependências do Instituto Agrícola de Menores.
Passados dez anos de sua partida foi honrado como patrono do nosso teatro municipal, inaugurado em 15 de dezembro de 1979.
Diante dessa biografia, podemos afirmar sem medo de errar que se vivo estivesse, Fausto teria sido um dos maiores incentivadores da construção desse belo e importante espaço artístico em nossa cidade. Fausto acompanhou o lançamento da pedra fundamental do novo teatro municipal.
Vale lembrar que o teatro municipal de Batatais demorou mais de dez para ser construído e só recebeu o nome atual em homenagem à Fausto Bellini Degani após a sua inauguração; mesmo com as indicações anteriores dos vereadores Alcebíades Tostes em 1969 e José Mário Dias de Moraes no ano de 1979.
O apoio da família Degani permanece irrestrito ao teatro municipal de Batatais, o que pode ser notado na adoção de dezenove poltronas pelos filhos, netos e demais parentes durante a campanha de reforma realizada entre os anos de 2016 e 2017. Para quem tiver curiosidade de procurar os nomes, informamos que estão nas fileiras K, L e M.
LOBISOMEM
LETRA E MÚSICA: Fausto Bellini Degani
Você já ouviu falar em lobisomem
Quem tem medo não é homem
Quem tem medo não é homem
Tem ele os olhos tão vermelhos cor de fogo
Traz na boca uma baeta
É covarde como um lobo
Quando ele chega no meio do terreiro
tão assustado procurando o galinheiro
o galo chefe lá de cima do poleiro
bem baixinho anuncia
vem chegando o bandoleiro
A meia noite por de trás da verde mata
a lua branca vem surgindo cor de prata
e o bicho foge pois acaba o encanto
num momento de espanto 0
um homem triste lá num canto
num momento de espanto
um homem triste lá num canto
Fonte: http://ampisbatatais.com.br/wp-content/uploads/2016/06/lobisomem_cifra_e_partitura.pdf
*caso queira conhecer a cifra e a partitura, acesse-a no site da AMPIS