Quem lê nossos escritos publicados neste jornal, sabe que gosto de bons pensamentos, reflexões, ditados populares e citações científicas. Trago, uma bela afirmativa de Nelson Rodrigues: “Começava a ter medo dos outros. Aprendia que a nossa solidão nasce da convivência humana.”
Esta frase é muito precisa. Narra o fato de que estar só, por opção, pode nascer do receio às chateações, às decepções, aos melindres, dentre outras possibilidades que a convivência humana traz.
Os humanos, lembrando a existência de exceções, estão deveras melindrosos, assim, basta que uma palavra mal escolhida seja colocada no diálogo para que ocorra mal-estar.
Sempre penso, aliás, penso muito, talvez devesse pensar menos… um diálogo na velocidade com quem perguntamos e respondemos nos oferece grandes oportunidades para que erremos no uso de palavras. Isso acontece em menor proporção nos escritos. Após escrevermos, lemos e talvez relemos, de forma a encontrar possíveis falhas, lacunas, duplicidades, incoerências, o que na fala, não é possível. Traimo-nos em maior proporção ao falar do que ao escrever.
De fato, as relações estão tão tênues, como se fossem cristal, que por sua característica, pode-se quebrar ao menor toque. As relações também, hoje, quebram-se, trincam-se com facilidade. Trincado o cristal, arranhada a(s) relação (ões), torna-se quase impossível o retorno ao estado e qualidade anterior (es).
O que pode ofender alguém? Depende do que seja, depende de como esteja no momento e depende muito mais de como, do que propriamente do conteúdo da mensagem. É a forma, não o conteúdo. Certo que o ideal, a delicadeza, o fino trato, a capacidade de interlocução, mas convenhamos as pessoas estão muito complicadas. O pior não é isso, o pior é que transferem seus problemas para o outro e aí a palavra no momento errado, é tudo que alguém necessita para justificar seus problemas, suas ações e tudo mais. Certa vez, ouvi de uma pessoa: “Meu filho foi um bode expiatório”. Às vezes, o outro que se vitimiza, quer justamente isso, alguém para responsabilizar.
Essa possibilidade realmente gera um receio em relacionar-se em trabalho, amizades, no âmbito familiar e até sentimentalmente. Perceba como as pessoas estão mais reclusas ou optam por pets para dividir seus dias e suas vidas.
O que fazer? Considero o meio termo algo sempre muito interessante. Assim, o ideal é que se deixe a postura “mi- mi- mi” e por outro lado, que as palavras saiam de nossa boca com menor velocidade, que se pense antes de expressá-las. Outro pensamento interessante: “Palavras fora da boca, são como pedras fora da mão”. Feito isso, se ainda existirem em suas relações pessoas com o alto nível de complicação para a qual quase nada pode ser dito ou quase tudo pode ser potencialmente ofensivo, se possível, mude sua postura, tente não abordar nada que possa gerar polêmica. Não fale de religião, nem de política, nem de família, menos ainda de assuntos polêmicos, se mesmo assim, o mal-estar persistir, retire-se, não apenas do ambiente, retire-se dessa amizade ou convívio altamente tóxico e vá curtir sua vida. Use seu tempo e seus momentos de lazer com pessoas que possuem um modo de ser fácil, que gostem de rir, que te aceita como é, que ela própria seja feliz e reverterá esse sentimento aos outros e ao cosmos, que curta dançar, ouvir músicas, reunir pessoas e alguém que curte a sua própria companhia. Pessoas felizes são bondosas, engraçadas, tem um jeito muito próprio de ser e existir e nada fazem para atrapalhar a vida alheia.
A cada novo dia temos a dádiva de recebermos de Deus [independente de como esse apresenta-se para cada um de nós] a possibilidade de reinventarmos nossas vidas através de escolhas realizadas. As escolhas nos pertencem, assim os ônus e bônus dessas, naturalmente, recaem sobre nós próprios, também a convivência que mantemos com os outros.
Pense nisso!
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