/De um instituto se fizeram dois: O Instituto Feminino e o Instituto Agrícola de Menores

De um instituto se fizeram dois: O Instituto Feminino e o Instituto Agrícola de Menores

Nas últimas edições da coluna Giro Histórico e Cultural tratamos das etapas iniciais de construção do prédio do Lar da Infância. O longo tempo de construção do que iria se tornar o Instituto Regional de Proteção à Infância acabou por mudar um pouco o rumo das coisas em relação ao uso do prédio. Vieram os anos 40 e com ele um novo olhar e responsabilização do Estado para as crianças e jovens desassistidos. Era necessário, conforme pensamento vigente à época, oferecer aos menores abandonados ou vulneráveis, além de acolhimento, uma formação profissionalizante, que fixasse o ‘assistido’ no meio agrícola-rural.

Porém, todo o espaço físico do futuro Instituto Regional e seu entorno não seriam suficientes para a grandiosidade de um projeto estadual em relação aos menores desamparados. Era necessária uma nova e ampla área. O que foi providenciada com rapidez e sucesso, afinal, à frente do projeto estava o então Secretário da Agricultura, o batataense Dr. Paulo de Lima Corrêa e outros líderes do governo, também ligados a Batatais, como o prof. Arnaldo Laurindo e o prof. Francisco Moreira Filho, entre outros.

Nasce, com isso, outra instituição sócio-educativa nos Altos do Cruzeiro, voltada para meninos menores desamparados de todo o Estado de São Paulo com oferta de educação profissionalizante, o Instituto Agrícola de Menores.

O que fazer então, com a construção não terminada do Instituto Regional do Alto do Santo Antônio? Abandonar todo o investimento de uma cidade e deixar desabar aos poucos o prédio em vias de finalização?

Pois bem, depois de algumas negociações, o governo estadual se dispôs a abarcar a finalização da construção do prédio e dar a ele uma finalidade. O Instituto Regional seria utilizado – após ser cogitado para outros fins, como tornar-se um novo Grupo Escolar Rural ou ser sede do 3º Batalhão de Caçadores da Força Pública do Estado de São Paulo – como Instituto Feminino e receberia meninas órfãs de todo o Estado de São Paulo.

A cidade ganharia duas instituições sócio-educativas: o Instituto Feminino e o Instituto Agrícola de Menores, ambas sob a direção da Secretaria de Serviço Social do Menor* do Estado de São Paulo.

Aproveitando esse período áureo da educação e assistência sócio-infantil em Batatais, deu-se também a construção de um novo edifício para o Grupo Escolar Rural ‘Antônio Augusto Lopes de Oliveira Júnior’ voltado para o antigo ensino primário e práticas agrícolas, estabelecido no Alto do Córrego do Capão e a Casa da Criança ou Casa da Puericultura, responsável pela assistência médico- sanitária das crianças, situada na Praça Anita Garibaldi, região central da cidade, em prédio existente até os dias atual, hoje utilizado como laboratório de análises clínicas do município.

 * A expressão ‘menor’ foi utilizada no texto como herança do Código de Menores de 1927, dispositivo de controle e coerção, que referenciava crianças e adolescentes em situação de abandono, de trabalho precoce ou em conflito com a lei vindos das camadas mais populares.

 

Retomando…

Entre os anos de 1938 e 1943, a comissão municipal responsável pela construção do Instituto Regional de Proteção à Infância lutou para que o prédio fosse finalizado, graças às significativas e constantes doações de fazendeiros, comerciantes e industriais da cidade de Batatais e região. Porém, o alto custo do empreendimento, dificultou a finalização do prédio num menor tempo, aliado ao aumento do custo de vida e a escassez de matérias primas em decorrência da 2ª Guerra Mundial (1939-1945).

No entremeio dessa tentativa de construção do Instituto Regional, surge uma nova proposta para o município de Batatais, fruto dos esforços concentrados do batataense, Dr. Paulo de Lima Corrêa, então Secretário da Agricultura do Estado de São Paulo e outros líderes do governo, também ligados a Batatais, como o prof. Arnaldo Laurindo; o prof. Francisco Moreira Filho – Departamento de Educação no Serviço de Assistência Técnica do Ensino Rural -; o prof. Aluísio Lopes de Oliveira – Diretor geral da Secretaria de Educação de São Paulo, entre outros.

Tratava-se de um novo modelo de instituição para menores que agregaria assistência, proteção e profissionalização, com abrangência estadual:

(…) o melhor presente,… do  governo do Dr. Fernando Costa, será esse estabelecimento de ensino, a cargo da Secretaria da Justiça, de que é titular o dr. Aberlardo Vergueiro Cezar. (…) O sr. Interventor… determinará a localização em nosso município, dessa escola, (…) não tínhamos a menor ideia da grandiosidade moral, humana, e material da mesma. (…) O Dr. Paulo de Lima Corrêa e os  srs. Longo e Plínio (engenheiros) estiveram examinando o local destinado a futura escola. (…).  (FOLHA DE BATATAIS, 03/07/1943)

Com isso, a edificação do Instituto Regional que continuava a dar passos muito lentos rumo a sua finalização, deixa de ser prioridade por conta do surgimento de um novo projeto de acolhimento assistencial ao menor abandonado, o Instituto Agrícola de Menores.

Como se constata, a escola agrícola a ser criada não ocupou as instalações do inacabado prédio do Instituto Regional de Proteção à Infância. Aliás, o mesmo espaço chegou a ser cotado, para se tornar uma vila militar para abrigar o 3º Batalhão da Força Pública que estava de transferência para Batatais naquele ano. Porém, logo essa possibilidade foi descartada pela necessidade imediata de um local para os soldados aquartelados daquela força policial. O prédio não estava definitivamente pronto e sua finalização demandaria tempo.

EXCELSIOR, BATATAIS! – (…) Em princípio foi cogitado que o espaço pudesse servir de quartel para o 3º. Batalhão de Caçadores da Força Pública, porém a escolha recaiu sobre o prédio do Fórum e Cadeia de Batatais (…) enquanto o edifício do Instituto Regional de Proteção a Infância, servirá depois de pronto, para a sua primitiva finalidade ou para acomodação do Grupo Escolar Rural, que em verdade não está hoje convenientemente instalado. Outra boa nova que nos trouxe o sr. dr. Francisco Arantes Junqueira, é a criação de um Aprendizado Agrícola em Batatais, com internato para 400 meninos, graças aos esforços que neste sentido vem empregando o nosso eminente conterrâneo sr. Dr. Paulo de Lima Corrêa (…). (O JORNAL, 13/05/1943)

Sem saber qual a destinação a ser dada às instalações do Instituto Regional em construção, fica a indagação da população e da imprensa do que poderia ser feito com o prédio. Surgem sugestões, como transformá-lo em um novo Grupo Escolar Rural ou fazer a doação do espaço para a Diocese, o que acaba por não acontecer.

Paralelo a discussão sobre a destinação do prédio em construção do Instituto Regional, coloca-se em pauta, a busca de um local para o novo projeto de um estabelecimento educacional que viesse a servir e beneficiar diretamente esta zona do território paulista e aos interesses do Estado, denominado inicialmente de Instituto de Reeducação de Menores.

Para este novo empreendimento é escolhido, pelo governo estadual, uma antiga fazenda, distante 2 km da cidade de Batatais, com cerca de 114 alqueires de terras mistas, com algumas culturas, como lavouras de café, de que se tornou proprietária a Prefeitura local, que posteriormente doou-a ao Estado.

INSTITUTO DE REEDUCAÇÃO DE MENORES – “Foi declarado de () utilidade pública pela soma de 170 mil cruzeiros, o imóvel agrícola denominado FAZENDINHA, de propriedade de Domingos Pupin, neste município onde será instalado o importante ‘Instituto de Reeducação de Menores’ que representa uma das grandiosas vitórias da administração Francisco Arantes Junqueira.” (TRIBUNA DE BATATAIS, 22/02/1943)

Na reportagem ‘Ecos da Visita do sr. Secretario da Agricultura’, no trecho ‘Horto e Instituto’, foram pontuados os  direcionamentos ao futuro novo Instituto de Reeducação de Menores:

(…) Foram depois exibidas, no gabinete do sr. prefeito, pelo Dr. Paulo de Lima Corrêa e pelo sr. Francisco José Longo, diretor de Obras Públicas do Estado, as plantas do Instituto de Reeducação, ou seja da Escola Agrícola, cuja construção será iniciada no princípio de agosto, nas terras da Fazendinha, ao lado do antigo Cruzeiro. São diversos pavilhões: o prédio central, com 8 grandes salas de aulas; o da residência do diretor, o do hospital e farmácia, a capela, com 10×20 metros, duas residências para professores, um prédio destinado a armazém de viveres, açougue e padaria e mais 20 casas com acomodações para um casal de regentes e 30 meninos, num total de 800 menores. (O JORNAL, 08/07/1943)

Infelizmente, a morte prematura do Dr. Paulo de Lima Corrêa em 30 de agosto de 1943, o impediu de ver sua terra natal desenvolvendo suas aspirações e projetos como o Instituto de Reeducação de Menores e mesmo o Horto Florestal e o Aeroclube de Batatais:

(…) Os eminentes homens do governo bandeirante virão presidir às cerimônias do lançamento da pedra fundamental do Instituto de Reeducação ou Escola Reformatória para Menores – cerimônias que teriam sido realizadas a 5 do corrente se não fora o falecimento inesperado e dolorosíssimo do sr. Paulo de Lima Corrêa, um dos mais propugnadores desses grandes melhoramentos que Batatais vem recebendo do atual governo (…) Acompanhados do sr. prof. Francisco Moreira Filho, inspetor do ensino agrícola, da Secretaria da Agricultura,(…) vieram visitar as obras do Horto Florestal, já em andamento e marcar o lugar para a Escola Reformatória de Menores (…). (O JORNAL, 23/09/1943)

A pedra inaugural do Instituto Agrícola de Menores de Batatais, como passou a ser chamado o Instituto de Reeducação de Menores, foi lançada em 2 de outubro de 1943.

“Às 15 horas, perante numerosa assistência, realizou-se na Fazendinha, junto ao imponente Cruzeiro, o lançamento da pedra fundamental do Instituto de Menores de Batatais, grande obra de assistência social que tanto preocupou o dr. Paulo de Lima Corrêa até às vésperas de sua morte.” (O JORNAL, 14/10/1943)

Durante o ano de 1943, as várias visitas do interventor federal e de secretariado à Batatais para a fiscalização de obras do Horto Florestal e do Instituto Agrícola de Menores de Batatais possibilitou a abertura de negociações para o acampamento das obras do Instituto Regional pelo governo estadual. Lembrando aos leitores e leitoras que a construção do imóvel foi até então de responsabilidade de uma comissão executiva, representante de autoridades e cidadãos batataenses.

Dia do lançamento da pedra fundamental do futuro Instituto Agrícola de Menores de Batatais – Evento na CMB –  Fonte: O JORNAL, 11/11/1943 – Acervo MHPWL

 Em fevereiro de 1944, as instalações do Instituto Regional tornam-se, por doação feita pela Comissão Executiva Municipal, sob a presidência do dr. Euclides Custódio da Silveira – Juiz de Direito da Comarca de Batatais -,  pertencentes ao governo do Estado de São Paulo. As obras do prédio não finalizado seriam retomadas pelo governo estadual que decidiu transformar as futuras instalações num Instituto Feminino modelo, também chamado de Instituto de Meninas.

ÚLTIMA HORA – “(…) Pelo Diretor de Serviço de Social recebeu-o o prédio sr. dr. Flávio Morais de Toledo Pìza, diretor do Instituto de Menores, recentemente nomeado e que se encontra entre nós acompanhado do sr.  dr. Fausto de Lima Barros, alto funcionário daquele importante Departamento. Ao que nos consta, o Instituto de Menores terminará logo a construção do edifício do Instituto Regional, que ficará como uma dependência dele e se inaugurará muito em breve (…)”. (O JORNAL, 20/02/44)

Em 1944, a oficialização da doação do Instituto Regional ao governo do Estado, deu origem à terceira e última fase da construção do edifício, doravante destinado ao acolhimento e formação de meninas, sob a direção do prof. Flávio Morais de Toledo Piza, também responsável pelo Instituto Agrícola de Menores. Conforme notas dos jornais locais o professor Flávio Piza foi, por vários anos, diretor do Reformatório de Menores da cidade de Monção (SP).

Com isso, BATATAIS PASSA A SER DOTADA DE DOIS INSTITUTOS DE MENORES, UM PARA O SEXO FEMININO E O OUTRO PARA O SEXO MASCULINO. 

Fonte: O JORNAL), 26/08/1943 – Acervo MHPWL

 CONSTRUÇÕES – “Seguem um ritmo acelerado as construções do governo nesta cidade, destinadas aos Institutos de Reeducação de Menores e Horto Florestal. O edifício do Instituto Regional de Proteção à Infância, doado ao Governo para construir o Instituto de Meninas, será o primeiro a inaugurar-se. A Companhia que empreitou o acabamento do prédio já deu início ao trabalho, começando por destelhar todo o corpo central, a fim de rebaixar o ponto. Dentro de poucos meses veremos em pleno funcionamento essa útil instituição onde serão abrigadas, para uma educação completa e conveniente, moral, social e profissional, algumas centenas de criaturinhas desamparadas. Os agrupamentos de construções do Horto e do Instituto de Reeducação de Menores – temo-los visto de avião, sobrevoando os arredores sempre pitorescos e sempre amados de nossa terra, – ostentam vários telhados e alinham paredes e alicerces sólidos, que entremostram o vulto e a importância dessas duas obras notáveis, doadas a Batatais pelo eminente governador dos destinos de São Paulo, o interventor dr. Fernando Costa. (…)”. (O JORNAL, 27/04/1944)

As obras do futuro Instituto Agrícola de Menores começaram com bastante impulso, conforme os jornais noticiam:

INSTITUTO DE MENORES – “Visitamos outro dia, pela primeira vez, as obras do Instituto de Reeducação de Menores, nos altos do Cruzeiro. Lá fomos com o Quinzinho, no seu ‘possante’ e prestimoso gasogênio, para ver de perto as importantes construções cujo perfil já se alinha, no ponto mais elevado, mais próximo e mais bonito de Batatais.

Conhecíamos as plantas, que estiveram expostas e nos foram explicadas minuciosamente pelo diretor do Instituto, sr. dr. Flávio M. Toledo Piza.

Tínhamos visto da estação da rodovia estadual, do céu (a bordo do ‘Urbaninho’) e daqui de baixo, de qualquer ponto da urbe, que os trabalhos seguem ali um ritmo febrecitante. Sabíamos mesmo que mais de uma centena de pedreiros e carpinteiros e camaradas estão empenhados no andamento rápido da obra, empreitada pela Construtora de Imóveis e Financiamento Sociedade Anônima, da Capital, dos competentes engenheiros srs. Vidigal, Mesquita & Cia.

Mas, confessemo-lo com franqueza e admiração: aquilo supera de muito os prognósticos mais otimistas que a imaginação da gente possa fazer.

Receberam-nos atenciosamente os administradores e mestres, srs. José Antunes (nosso conterrâneo) e Bruno Stolai, que se prontificaram a mostrar-nos as construções todas, num total de trinta casas térreas, amplas, elegantes e moderníssimas, três delas em via de acabamento: a portaria, o almoxarifado, a administração.

Além, à esquerda, os alicerces do Grupo Escolar – que será mais ou menos como o ‘Dr. Washington Luís’, com 16 classes, – e diversos lares para os educandos.

No centro, o edifício da seleção, e um enorme galpão, de 110 metros de comprimento em frente de uma praça de esportes com piscina, campo de futebol e pistas para atletismo.

À direita, no fundo, o hospital, outros lares, a casa do diretor, cujas paredes já vão subindo. Espalhadas em diversos pontos, simetricamente dispostas, as residências confortáveis para os funcionários.

Nas imediações do Cruzeiro, a Capela. Para trás, além do antigo leito da estrada de ferro, os ranchos e benfeitorias menores para animais e depósitos do instrumental agrário.

Em resumo, será uma pequena cidade nova ou uma grande fazenda, para contrariar o nome primitivo daquelas terras: Fazendinha.

Era hora do almoço e o toque de sino fez reunir quase todos os operários, cerca de 150 homens, num pátio espaçoso onde ‘posaram’ para a nossa objetiva. Andamos depois batendo outras chapas, de vários ângulos, para uma reportagem fotográfica da visita, que publicaremos na próxima edição, se chegarem a tempo os clichês mandados fazer em São Paulo.

Por eles, terão os nossos leitores a prova de que aí ficou dito: o Instituto de Reeducação de Menores, a despeito da crise de transportes e da angustia de materiais de construção, vai sendo erguido com notável rapidez (…)”. (O JORNAL, 06/07/1944)

Foto tirada durante visita do O JORNAL às futuras instalações do Instituto Agrícola de Menores de Batatais.  Cerca de 150 operários trabalham nas obras do Instituto de Menores. Ao fundo, o prédio da portaria e o Santo Cruzeiro. O JORNAL, 16/7/1944 – Acervo MHPWL

Em 1945, o projeto estadual de assistência social para Batatais com a construção de uma escola agrícola para menores abandonados ou ‘delinquentes’, o Instituto Agrícola de Menores e a anexação do prédio do Instituto Regional estavam sendo executados com rapidez. Em entrevista o diretor e supervisor das obras dos dois institutos, Flávio Toledo Piza, falou sobre os futuros institutos e os rumos Instituto Feminino:

“(…) não será, de futuro, ‘seção feminina’, mas ‘Instituto Feminino de Batatais” Será uma casa de educação completamente autônoma, pois dentro do mesmo espírito e idênticos métodos educativos, impõe-se que a sua direção não se exerça à distância. – As instalações já se acham prontas? – Absolutamente. O prédio que lá está será terminado. Praticamente só falta a pintura. Nele ficarão o dormitório, o refeitório, a administração, a cozinha e a lavandeira já montadas, a rouparia, gabinetes médicos e dentários. Mas ele não será o único.

Já se acham na Secretaria da Viação todos os projetos do conjunto. Temos ainda que construir um grande prédio para as oficinas de costura, bordados, trabalhos manuais, tecelagem de tapetes, arte culinária e tecnologia rudimentar. Num outro prédio se colocarão a fiação e a tecelagem da seda.

No masculino receberemos os ovos de ‘Bombyx’, passando toda a produção ao feminino, que entregará o tecido pronto.

Temos que acrescentar um almoxarifado, um depósito para lenha, uma casa para Diretoria, uma casa para professoras igual à casa de solteiros no masculino e um galpão de recreio, leitura e projeções (…).” (O JORNAL, 26/10/1945)

O prédio destinado a ser o Instituto Feminino teria “capacidade para 140 alunos e conta com um grande, vastíssimo dormitório, gabinete dentário, 4 salas de aula, enfermaria, rouparia, cozinha, lavanderia, refeitório, copa, dispensa e instalações sanitárias. Esse edifício encontra-se em meio a uma área de 40 alqueires, a 500 metros da cidade.” (DIÁRIO DE SÃO PAULO in O JORNAL, 17/01/1946)

“Vista do prédio destinado às meninas no Reformatório de Menores de Batatais, projeto da Diretoria de Obras Públicas. A foto do edifício em fase final de construção foi publicada no relatório da interventoria de São Paulo referente ao ano de 1944. Fonte: SÃO PAULO (Estado). Interventoria, 1945, [s.p.]”. Retirado de: AL ASSAL, 2009, p. 151. Disponível em: https://teses.usp.br/teses/disponiveis/16/16133/tde-27042010-091114/publico/dissert_mbalassal_final.pdf
Ainda na senda das construções da década de 40 em Batatais, os jornais trazem informações sobre outros futuros prédios destinados a promover a educação e a assistência social, como o novo Grupo Escolar Rural e uma Casa de Puericultura:

BENEMERÊNCIA – Segundo estamos informados foi anteontem assinada no Palácio dos Campos Elíseos a autorização para o pronto início das obras do novo Grupo Escolar Rural e da ‘Casa da Criança’, desta cidade, que serão localizados, respectivamente, nos terrenos do antigo Capão e no Bosque do fim da rua Barão de Cotegipe.

Tivemos oportunidade de ver e admirar, outro dia, na Prefeitura, mostradas pelo sr. Francisco Arantes Junqueira, as plantas das duas importantes construções. (…)

Com a auspiciosa doação e instalação do Horto Florestal, que aí já se encontra em pleno funcionamento, sob a criteriosa e esclarecida direção do sr. Alceu de Arruda Veiga; depois da comentada transferência do 3º B.C. para esta cidade onde se acha perfeitamente acomodado no edifício do Fórum, Cadeia e Delegacia de Polícia – construído ao tempo em que nosso ilustre conterrâneo Dr. Altino Arantes exercia a presidência do Estado de São Paulo –; desde o lançamento da pedra fundamental do Instituto de Menores e o prosseguimento do Instituto Regional, transformado em Instituto Feminino, ambos agora quase em vias de acabamento e de inauguração, depois de um ano de serviço (...) a terminação desses vultosos empreendimentos. (O JORNAL, 21/06/1945)

Retirado do O JORNAL,20/7/1946 – Acervo MHPWL

 Embora todos os esforços e acordos tenham sido feitos, o término das obras dos dois institutos ainda durou mais um tempo. Depois de um ano, em 1946, o Instituto Agrícola de Menores, nasceu por decreto-lei nº 15.968 em 14 de agosto, como Instituto Agrícola de Menores de Batatais (IAMB), vinculado ao Serviço Social de Menores, do Departamento de Serviço Social, ligados à Secretaria de Justiça e Negócios do Interior do Governo do Estado de São Paulo, quando era interventor no Estado de São Paulo, o sr. José Carlos Macedo Soares.

A abertura do Instituto Agrícola de Menores de Batatais ocorreu no dia 16 de agosto de 1946 – já a visita oficial às instalações do interventor Macedo Soares e comitiva, aconteceu uma semana antes, no dia 7 de agosto -, com a chegada e acomodação de trinta menores em um dos 10 lares, procedentes do Educandário D. Duarte, da Liga das Senhoras Católicas de São Paulo. Os recém-chegados ficaram sob os cuidados de     um casal de professores. Em outubro do mesmo ano, três lares já eram ocupados por 90 internos.

 “Houve missa às 8 horas da manhã, na sala principal do galpão, assistida pelos alunos, funcionários, autoridades locais e convidados. Celebrou-a o revmo. Padre Mário da Cunha Sarmento, vigário da Paróquia, que ao evangelho proferiu uma prédica muito apropriada e eloqüente, endereçando conselhos paternalmente carinhosos aos menores e congratulando-se com o Governo do Estado, os diretores, os funcionários e com a cidade de Batatais pela inauguração do Instituto naquele dia que a Igreja dedica e consagra a N. S. do Carmo, – a protetora dos órfãos e desvalidos.

A seguir ministrou a benção ao primeiro lar, cujas dependências confortáveis foram percorridas por todos os presentes, que assim puderam sentir a influência daquele ambiente, que é uma casa de família, sobre o espírito dos jovens recolhidos que são em geral órfãos de pai e mãe. Nós mesmos procuramos conversar com alguns deles – todos de uniforme azul, bem comportados e bem dispostos, – sobre as impressões que tiveram de chegada. Mostraram-se muito satisfeitos.

Em palestra com o diretor do Instituto, sr. dr. Flávio Morais de Toledo Piza, soubemos que naquele mesmo dia estavam sendo inaugurados mais três novos estabelecimentos do Serviço Social, que iniciavam simultaneamente as suas atividades, dentro de um grande programa de extensão do trabalho de assistencia à infância desamparada. (…) Soubemos também que a segunda turma, para povoamento do segundo lar, é esperada no dia 15 de agosto próximo.” (O JORNAL, 20/7/1946)

 Já a finalização e inauguração das obras do Instituto Regional, renomeado para Instituto Feminino ou Instituto das Meninas não se deu, como esperado, de forma concomitante ao IAMB, pois em outubro do mesmo ano uma comissão de dirigentes do governo paulista esteve em revista ao Instituto Feminino, “cujas obras estão prosseguindo com intensidade (…).” (O Jornal, 17/10/1946)

A obra do prédio do futuro Instituto Feminino foi finalizada pelo governo do Estado de São Paulo mais de um ano depois, entre 1947 e 1948.

Instituto Regional de Proteção à Infância (Lar da Infância). Fonte: PARENTE, Sônia, 2016, p. 111- data provável início da década de 50
http://citrus.uspnet.usp.br/centrodememoriaip/sites/default/files/Sonia_Parente_relatoriofinal-IAMB_6dez2016.pdf

 A edificação em estilo moderno, inicialmente projetada por Carlos Zamboni para ser o Instituto Regional de Proteção e Amparo à Infância sofreu alterações em sua fachada, provavelmente após ser transferida para a gestão do governo do Estado de São Paulo. Foram inseridos elementos do estilo neocolonial em sua arquitetura, principalmente em sua entrada destacada com janelas em arco abatido no pavimento superior, janelas de guilhotinas, beirais de cachorros, frontão decorado por telhas capa e canal, fonte de água e painéis de azulejos mostrando cenas bucólicas, nacionais ou religiosas.

No início dos anos de 1940, o governo do Estado de São Paulo planejou a implantação de dez Escolas Práticas de Agricultura (EPAs), das quais seis foram construídas e se tornaram exemplares neocoloniais. A linguagem neocolonial – possivelmente pelo seu teor tradicionalista – foi adotada para melhor expressar os propósitos oficiais da época.

Os painéis decorados na edificação do Lar da Infância foram produzidos pelo ateliê do artista plástico e ceramista Antônio Luís Gagni (São Paulo, 1897 – 1979).

O que sabemos é que seu funcionamento teve início, como proposto, em 1948, sob os cuidados e projeto pedagógico das Irmãs Salesianas de Dom Bosco. O espaço era tido como um anexo ou seção feminina do IAMB, sob a supervisão geral de seu diretor e contava no seu primeiro ano de funcionamento com 78 meninas menores. (Correio Paulistano, 25 de setembro de 1948)

Nos anos iniciais a seção feminina do IAMB esteve sob os cuidados diretos das religiosas. E, para elas o Instituto Feminino ou também chamado à época de Educandário, foi uma extensão das atividades assistencialistas desenvolvidas pela Irmandade.

Muito se credita a escolha das Irmãs Salesianas para gestão da unidade feminina, pelo fato delas já possuírem experiência com crianças órfãs e abandonadas no Orfanato Santo Antônio, existente desde o final da década de 30 nas dependências do próprio Colégio e Escola Normal Nossa Senhora Auxiliadora, além do Oratório Festivo (instrução moral e religiosa de crianças carentes) e do semi-internato de meninas carentes da cidade que ficavam internadas de segunda a sexta nas dependências do Colégio.

Vale ressaltar que o projeto pedagógico idealizado para o Instituto Feminino não aconteceu na íntegra. O local tornou-se apenas uma extensão do Orfanato Santo Antônio, dirigido pelas Irmãs Salesianas, embora num relatório sobre o atendimento às meninas no Estado de São Paulo, do Boletim de Serviço Social de Menores, temos que entre os poucos abrigos voltados ao acolhimento de meninas, o de Batatais foi considerado o que apresentava melhores condições de atendimento: “Batatais, felizmente é exceção mas abriga apenas 120 meninas (…)  voltada para o aprendizado rural.”  (Boletim do SSM, 1951, vol. X, p.16)

Painel de azulejos da fachada – Fonte: MHPWL

 

Os anos iniciais de funcionamento da seção feminina ainda são pouco claros e carentes de dados efetivos. Não se sabe ao certo o período exato e em que condições as religiosas administraram o local e quando o espaço foi administrado exclusivamente pelo IAMB.

Fundos do Instituto Regional de Proteção à Infância (Lar da Infância). Fonte: PARENTE, Sônia, 2016, p.112 – início da década de 50
http://citrus.uspnet.usp.br/centrodememoriaip/sites/default/files/Sonia_Parente_relatoriofinal-IAMB_6dez2016.pdf

Depoimentos de ex-internos do IAMB indicam que por volta de 1957, o espaço passou a receber crianças do sexo masculino e a ser denominado de Lar da Infância, atendendo meninos entre 2 a 7 anos que depois davam seqüência ao internato no próprio IAMB nos Altos do Cruzeiro.

Já as Irmãs Salesianas fecharam as portas do Colégio e Escola Normal Nossa Senhora Auxiliadora no início dos anos 70, dando fim aos projetos sócio-educacionais do Orfanato Santo Antônio, do Oratório Festivo e ao programa para as meninas carentes da cidade, levando consigo as memórias desse passado. Infelizmente, os arquivos das Irmãs Salesianas em Batatais desapareceram, o que nos impede de avançar um pouco mais nossa investigação.

Durante este período, entre os anos 80 e os dias atuais, o prédio do Instituto Regional, mais conhecido no decorrer de sua história como Lar da Infância foi cedido para a administração municipal e todas as funções nele estabelecidas foram, até período recente, relacionadas à criança e à assistência social. Recentemente, em 2025, o Fundo Social de Solidariedade passou a utilizá-lo também.

Muitas mudanças nas políticas públicas em relação ao menor foram acontecendo em fins da década de 60 até os anos 90, gerando o fim gradual do projeto político-pedagógico do Instituto Agrícola de Menores de Batatais, até seu total desmantelamento na década de 90.

Quanto ao Instituto Agrícola de Menores de Batatais (IAMB), é tema para outro artigo.

Considerações Finais

Após estudo minucioso da história e arquitetura da edificação em questão, concluímos que tal patrimônio possui valor material e imaterial para a cidade de Batatais.

Em relação aos valores materiais identificamos sua arquitetura neocolonial e elementos artísticos presentes nos painéis de azulejaria, tem valor histórico atrelado ao envolvimento da população na conquista de um local de assistência à infância e ao Estado de São Paulo, como um ícone da história da criança abandonada.

Já em relação aos valores imateriais, é incontestável o valor afetivo que a edificação desperta em seus antigos usuários, atuais frequentadores e funcionários das diferentes épocas.

Durante o tempo da elaboração do presente estudo, foi possível presenciar inúmeras manifestações de interesse pela preservação da edificação tanto por sua beleza, quanto pela sua importância para a história da comunidade.

A edificação está em avançado estágio de deterioração, principalmente em relação ao telhado e pavimento superior, sendo urgente a tomada de medidas para sua preservação a fim de garantir a integridade do prédio e de seus frequentadores.