/ITALIANOS EM BATATAIS: os primeiros nomes que aparecem em documentos oficiais

ITALIANOS EM BATATAIS: os primeiros nomes que aparecem em documentos oficiais

 

A chegada anual da tão esperada Festa Di San Gennaro de Batatais desperta nos batataenses o desejo de saber e compartilhar ainda mais um pouco da história da cidade e da sua própria história familiar, como morador da cidade.

O grupo populacional homenageado pelos organizadores desta festa cultural e gastronômica, que ocorre todo mês de setembro é o de origem italiana! São 140 anos da presença italiana e de seus descendentes no município, desde os anos de 1880.

Calculamos a vinda de aproximadamente 8.000 imigrantes italianos durante a Grande Imigração (1880-1930) para Batatais, a maioria para a lavoura cafeeira em expansão. Na década de 1890, quase a metade dos moradores de Batatais, eram provenientes da Itália, sem contar seus descendentes e os estrangeiros de outras nacionalidades.

Em 1896, Batatais contava com 17.714 habitantes, dos quais 9.704 eram nacionais (incluindo-se os filhos dos imigrantes) e 7.470 eram estrangeiros imigrados: 6.081, italianos e 1.389, de outras nacionalidades. Nota-se que dos habitantes estrangeiros, a maioria eram italianos.

 População do município por nacionalidade Batatais – 1896

NACIONALIDADE TOTAL %
Brasileira

Italiana

Austríaca

Espanhola

Portuguesa

Árabe

Outras

9.704

6.081

551

444

317

31

46

56,5

35,4

3,2

2,6

1,8

0,2

0,3

TOTAL 100%                    17.174

Fonte: ACMB. Relatório do Intendente Municipal, 1898 apud Pereira, 1998, p. 201.

Segundo relatório do Intendente Municipal Dr. Washington Luís, de 1º de abril 1898, este declara após análise do recenseamento de 1896:

“Por esse resultado vê-se que quasi um terço da população é italiana e que há mais da metade da população que é analphabeta; além disso verifica-se que há mais homens que mulheres, ao contrário do que demonstram todas as estatísticas, e que são poucas as crianças e muito menos os velhos.

Esses dois factos demonstram apenas que a população da cidade é adventicia, é de imigrantes, pondo nesta conta brazileiros que não nascidos aqui, para equivaleram em demanda de trabalho; sendo que este último contingente não é pequeno absorvendo quasi metade do número de brazileiros (..)

Pela mesma razão existem poucos velhos e poucas crianças, não se podendo, portanto, levar esta última circunstancia a conta do clima d’esta cidade que, com todos sabem, é o melhor possível, não tendo esta cidade sido visitada por epidemia alguma nem as tendo endêmicas. (…).” (ACMB. Relatório Intendente Municipal, caixa 08, 01/04/1898 apud Pereira, 1998)

Com isso, os italianos formaram um dos grupos populacionais que mais contribuiu para a formação da sociedade batataense no final do século XIX e meados do século XX.

Fizemos, para os leitores e leitoras desta coluna, duas listas: a primeira, com o nome de estudos sobre a imigração italiana para Batatais e, a segunda lista, com alguns dados, informações e curiosidades dos imigrantes, sobretudo italianos, em Batatais.

Trabalhos sobre a imigração italiana para Batatais

– Para o estudo da presença italiana em Batatais são considerados trabalhos referência:  Os imigrantes e descendentes na formação sócio-polítiica, econômica e cultural de Batatais (1992), de José Mauro Marinheiro Fernandes; O municipalismo de Washington Luís em sua atuação em Batatais (1893-1900): aspectos da modernização urbana no interior paulista na República Velha (1998), entre outros de Robson Mendonça Pereira; A Arquitetura de Batatais: 1880-1930 (1993), de Maria Stella Teixeira Fernandes Dutra; O Imigrante Italiano em Batatais: casamento e nupcialidade – 1890-1930 (2003), de Luciana Squarizi; Riqueza e Escravidão no Nordeste Paulista – Batatais: 1851-1887 (2006) de Juliana Garavazo; entre outros.

Alguns dados, informações e curiosidades da imigração italiana em Batatais

– Para Batatais a data mais remota que temos notícia, faz referência a estrangeiros livres em 1872, por meio do Recenseamento da Província de 1872. Consta que Batatais possuía 09 estrangeiros livres: 6, portugueses e 3, italianos. Além dos estrangeiros cativos, no caso, os africanos, 158.

– Jean de Frans no livro Bom Jesus da Cana Verde – Batataes d’Outrora (1939) afirma que em 1872, em Batatais, foi naturalizado na cidade o primeiro estrangeiro, sem citar nome ou procedência.

– O mesmo Jean de Frans nos informa que o primeiro italiano a residir no ambiente urbano em Batatais teria sido Eduardo Sprocatti, relojeiro e joalheiro estabelecido na Praça Cônego Joaquim Alves com a Rua Barão de Cotegipe (por volta de 1870?).

– O artigo Italianos D’Outrora publicado n’O Jornal no dia 26.10.1943 produzido em plena 2ª. Guerra Mundial, pelo mesmo memorialista Jean de Frans dá indícios de que um dos estrangeiros mais antigo que residiu em Batatais teria sido o italiano, Pedro Mascagni, dono do 1º hotel da cidade.

– Nos Livros de Registros Paroquiais de Casamento da Igreja Matriz local, encontramos os primeiros registros com a indicação da nacionalidade italiana dos noivos ou de seus genitores no ano de 1886. No ano citado, foram realizados sete casamentos de estrangeiros, computados italianos e austríacos.

– Aparece no Livro 3 de Assentamento de Casamento da Paróquia da Igreja Matriz de Batatais, o primeiro casamento envolvendo um noivo italiano. O noivo foi Samuel Adolfo Biagi, natural da Província de Luca, na Toscana e a noiva foi a batataense, Ambrosina Amália de Oliveira. O noivo era filho de Carlos e Adair Biagi e a noiva filha do Coronel Antônio Augusto Lopes de Oliveira e de Eufrasia de Oliveira, sendo a cerimônia realizada no dia 30.01.1886. Da união, o casal teve um filho de nome Ângelo. Sabemos que o sr. Samuel A. Biagi ficou viúvo por volta de 1956 e depois de 17 anos, casou-se em segundas núpcias com Hilda Cinto. Era um apaixonado por motocicletas e bicicletas, chegando a construir alguns modelos. Foi proprietário junto com seu irmão Carlo Biagi de uma bicicletaria em Batatais, fechada na mesma época em que ficou viúvo pela 1ª. vez.

– Aparece no mesmo Livro 3 de Assentamento de Casamento da Paróquia da Igreja Matriz de Batatais e mesmo ano, 1886, o segundo casamento de italiano registrado, no dia 15.07. Foi o assento de casamento de Miguel Puccinelli, natural de Sant’Anna em Luca na Itália, filho dos italianos Cristophano e Erminia Pulcinelli com Carolina Norberta da Silva, filha natural de Joana. Não apresenta sobrenome, e a mãe é considerada ex escrava, liberta. Sobre Miguel Puccinelli temos algumas informações: foi comerciante, proprietário em Batatais uma fábrica de cerveja no Largo do Castelo.

– Em 1886 foram registrados casamentos de imigrantes de origem austríacos com o sobrenomes: Baptiston, Baldassi, Fortechine, Foursal, Franciscon, Garneluta, Luria, Magron, Marcor, Moschiar, Zasina, entre outros.

– Em 1887, o terceiro casamento de italianos assentado, foi de um noivo italiano com uma brasileira: Gullo Pedro Angelo, natural da comuna Spezzano Albanese, província de Cosenza, na região da Calábria/Itália, filho de Angelo Gullo e Catharina Deodata com Maria Augusta Jacomine, natural da Província de Treviso, filha de Jaco e Rosa Jacomini.

– Os Livros de Registro de Entrada de Imigrantes da Hospedaria do Imigrante, em São Paulo, indicam que com destino a Batatais, encontramos Chirico (?) Carmine, italiano, de 17 anos, solteiro, trabalhador, proveniente da Itália, procedente pelo Porto do Rio de Janeiro no Navio Mondego, em 17.11.1886. (Livro 4 da Hospedaria do Imigrante, 1886, p.106)

– Ainda no mesmo livro e no ano, chegaram 9 imigrantes de origem portuguesa, a maioria homens solteiros, pelo Porto do Rio de Janeiro, no Navio Berlim, a 30.11.1886.

– Os Livros de Registro de Entrada de Imigrantes da Hospedaria do Imigrante, em São Paulo, indicam que a 24 de março de 1887 chegava no Porto de Santos, o navio Savoie. A bordo, 144 pessoas que tinham como destino o município de Batatais, dentro da política de imigração subsidiada do governo provincial paulista.

– Nomes dos chefes de família das 144 pessoas conforme Livro de Registro de Entrada de Imigrantes da Hospedaria do Imigrante: 1. O casal Trevisiol Giovanni e Zanchetta Anna, a nora, Lucia Tathan(?) e os filhos menores do casal: Giuseppe, Antonio e Cecilia; 2. Tomazella Santa e as filhas: Maria e Daniele Marizini; 3. O casal Prizou Carlo e Daniele Luigia, a sogra do marido Felice Rasminelli e os filhos: Luigi, Fortunato e Gioachino; 4. Ross Mariana e a filha Maria; 5. Prizou Innocente, Antonia Poraccin e os filhos Giuseppe, Santa e Antonio; 6. Prizou Luigi,  Domenica Corer e os filhos Tereza, Maria e Rosa; 7. Prizou Pietro, Antonia Buso e os filhos Angelo, Emilia, Agostino e Madalena; 8. Prizou Domenica e os filhos Egidio e Giovanni; 9. Zanetti Pietro e Teresa Modolo; 10. Zanetti Domenico, Rosa Rui e os filhos: Vittoria, Luigi, Cipriano, Regina e (?); 11. Zanetti Antonio, Figiotto Maria e os filhas: Carolina e Luigia; 12. Zanetti Giuseppe, Maria (?) e filhos: Anna, Giovanni e a mãe do chefe da família, Spinazze Anna; 13. Zanetti Francesco, Angela Perazza e o filho Fioravante; 14. Zanetti Valentino, Rozza Catharina e os filhos Gio Batta, Teresa, Elisabetta, Santa e Cristina; 15. Giacomini Giuseppe e Boscaiol Regina; 16. Giacomini Francesco, Teresa Vendramini e os filhos: Domenico, Catterina e Giuseppe; 17. Giacomini Giacomo, Luigia Rosseto e os filhos: Augusta, Teresa, Madalena, Luigia e Luigi; 18. Giacomini Agostino, Tomazella Pasqua e o filho Mauro; 19. Giacomini Giovanni, Angela Zanetti e os filhos: Antonio, Francesco e Angelo; 20. Giacomini Sante, Maria Mazer e a filha Maria; 21. Tomazella Valentino, Portello Angela e os filhos: Luigia, Santa, Pietro, Francesco e Giuseppina; 22. Tomazella Domenico, Mou Antonia e os filhos: Catterina, Antonio, Maria, Agostino, Elizabetta e Giuseppe; 23. Tomazella Angelo, Maria Giacomini e o filho Domenico; etc

Retirado de Acervo Digital – Museu da Imigração
https://www.arquivoestado.sp.gov.br/uploads/acervo/textual/hospedaria/L005_048.pdf e subsequentes…

– Foi na década de 90 do século XIX, que Batatais recebeu o maior número de famílias imigrantes. Oficialmente em 1892, 476 imigrantes e em 1897, 2.168 pessoas.

– No Livro 1 de Transcrição de Imóveis (1876-1880) do Cartório de Imóveis de Batatais temos notícia que o conhecido e estimado Pedro Mascagni tenha sido o primeiro italiano a ter registrada em 26.01.1884 “uma morada sita a rua do Comércio, esquina da do Theatro” em Batatais e o outro estrangeiro, o inglês Saint-Hilaire Toste Fleming possuía “uma casa na Rua das Flores”, registrada em 14.12.1885.

– Ainda no mesmo livro cartorial, consta o registro em 12.04.1886, de aquisição de terras feita por um italiano, em Mato Grosso de Batatais – atual Altinópolis, então distrito de Batatais. Trata-se de Miguel Risso que “adquiriu uma sorte de terras de cultura nas Fazenda de São João, Araraquara e Caxoeira – 35 alqueires de cultura, no lugar a escolha do adquirente, sendo 30 alqueires no lugar próprio para plantio de café e cinco que garanta morada (…)”.

– Para os anos de 1887, 1888 e 1890, o mesmo Miguel Risso, com residência declarada em Cajuru, adquiriu por volta de 80 alqueires de terras na Fazenda São João, em Altinópolis. Miguel Risso, aparece como proprietário de 140 alqueires paulistas em 1904, com produção anual de 1000 arrobas ou 30.000 pés de café e possuía 15 famílias de colonos estrangeiros, segundo o Recenseamento Agrícola e Zootécnico.

– No Anuário Estatístico Agrícola e Zootécnico da Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo de 1904-1905, foram encontrados 57 italianos proprietários de terras, 5 portugueses, 2 alemães e 1 austríaco para o município de Batatais (nesse período estão inclusos os distritos de Altinopolis e Brodowski).

– O Anuário Estatístico Agrícola e Zootécnico da Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo de 1904-1905 aponta como, por exemplo, como proprietários de terras, no início do século XX Francisco Zaparolli e Ernesto Pupin (retratados a seguir), que também aparecem no Álbum Paulista de 1911.

-O Álbum Paulista de Laurindo Ribeiro, produzido em 1911 traz uma média de 10 fazendeiros imigrantes para as principais cidades cafeicultoras paulistas. De Batatais, selecionamos:

Francesco Zagarolli, italiano residente no Brasil há 23 anos, ou seja, desde 1888. É proprietário de 19 hectares de terras com 22 mil pés de café. Fonte: Album Paulista, de Laurindo Ribeiro, Torino, 1911

 

Ernesto Pupin, italiano, residente no Brasil há 24 anos, ou seja, desde 1887. Proprietário de 20 hectares de terra com 16 mil pés de café
Fonte: Album Paulista, de Laurindo Ribeiro, Torino, 1911

 –  Alguns Inventários sob a guarda do Judiciário, onde o autor e/ou o réu tinham origem italiana. A saber: o mais antigo foi de Vicente Ferrari em 1884; Felicita Dal Picolo em 1900, Francisco Arconero em 1901; Elvira Zanetti em 1902; José Boldrin em 1904; Maria Veroneza Tanga em 1911, entre outros.

– A partir do ano de 1889 teve registrado civilmente o casamento de Ernesto Pupin, italiano, filho de Domingos Pupin e Regina Moreti com Theresa Jacomini, italiana, filha de Jacomini Jacomo e Roseta Santa

– O primeiro enterramento no Cemitério Municipal da Saudade foi de uma italiana em 1903.

Passaportes e Processos, da década de 20, sob guarda do Museu da Imigração de Stella Giovanni, italiano, 51 anos, trabalhador rural que requer ressarcimento dos ‘gastos de viagem’ para o Brasil pelo governo do Estado de São Paulo.  Informa ter chegado ao Brasil acompanhado da esposa Amália, italiana, 46 anos, e de seus 7 filhos, todos procedentes de Verona, para trabalhar nas lavouras do Dr. Domingos de Queiroz, na Fazenda Macaúbas, no município de Batatais/SP, em 1923. “Não passou pela Hospedaria dos Imigrantes pois esta estava ocupada por forças do Exército. Datada 28/04/1924”

Fonte: Acervo Digital – Museu Imigração
http://www.inci.org.br/acervodigital/upload/requerimentos/BR_SP_APESP_SACOP_REQ_C07584_00378.pdf

Passaportes e Processos, da década de 20, sob guarda do Museu da Imigração de Pegorin Antonio, italiano, 50 anos, cantareiro, que requer ressarcimento dos ‘gastos de viagem’ para o Brasil pelo governo do Estado de São Paulo.  Informa ter chegado ao Brasil acompanhado da esposa Matilde e os filhos menores: Ernesto, Romano e Natale, para trabalhar nas lavouras da Fazenda Capoeira Limpa, no município de Batatais/SP, em 1924.

Fonte: Acervo Digital – Museu Imigração

– Em 1894, ocorreu o que chamamos de Grande Naturalização e com essa campanha o alistamento eleitoral nos ‘novos’ cidadãos brasileiros. Em Batatais, o Acervo Histórico da Câmara Municipal de Batatais guarda alguns documentos relacionados a naturalização e alistamento eleitoral de estrangeiros. A seguir o

Agapito Liparelli, italiano, residente em Batatais requer inclusão na lista de eleitores locais em 1894

Documento em italiano da Comuna de Massarosa atestando a familiaridade de Agapito Lipparelli, 1891

– Nos anos de 1898 e 1899 aparecem nos Livros de Impostos Prediais, o prédio denominado Maçonaria Italiana, na Rua Duque de Caxias, antiga Rua dos Carros.

– No começo da mesma rua existiu no início do século XX, uma entidade operária fundada por Romulo Rigotto. Observem: não estamos falando da Sociedade Operária fundada em 1929 pelo mesmo Romulo Rigotto.

– Ficava também na Rua Duque de Caxias com o Largo da Capela Santa Cruz, a primeira Sociedade Italiana de Beneficenza e Mutuo Socorro de Batatais, fundada em 1894, onde está instalada atualmente uma cervejaria.

– As informações acima compartilhadas dão nota do quanto os italianos e seus descendentes foram atuantes e de significativa importância para o desenvolvimento da cidade.