HÁ 100 ANOS… Imprensa, impostos, escolas, fogos de artifício, gripe espanhola e muito mais

Caro leitor, você acha que a vida social do brasileiro mudou nos últimos 100 anos? E em Batatais? Como era o lazer e os serviços de educação e saúde? Para ajudar a responder estas últimas perguntas, trazemos as informações da cidade em 1919.
Na década de 10 do século passado, circularam, pelo menos, mais quatro jornais, todos de pequeno formato, a saber: ‘A Cidade’, fundado em abril de 1916, tendo como proprietário J. Barbosa Júnior e como redator o Dr. José Arantes Junqueira. A sua oficina tipográfica ficava à Rua Coronel Joaquim Rosa, nº 11; havia também ‘A Tribuna do Povo’, fundado em fevereiro de 1913, tendo como redator Jonas Ramos; ‘O Castello’, fundado em 1911 e que teve como redatores Pedro A. da Silva e Adelino A. Carvalho. Por fim, ‘O Momento’, fundado em 1919, sob a redação de J. Carvalho Chelles e direção de Augusto Simioni e João de Souza, um folhetim dedicado às artes e às letras. No entanto, não sabemos ainda quanto tempo circulou cada um deles.

Página da Gazeta de Batatais (maio de 1919)

Para este período há no Museu Histórico e Pedagógico ‘Dr. Washington Luís’ apenas exemplares do jornal ‘Gazeta de Batataes’, que estava no seu 12º ano de circulação. Seu diretor, Carlos Tambellini, era membro de uma família italiana tradicional ainda existente em Batatais. A oficina tipográfica do jornal ficava à Rua Marechal Deodoro, nº14.
Com a leitura deste periódico, levantamos alguns indicadores da cidade para a época, que consideramos interessante serem publicados, como a relação das instituições escolares, das instituições beneficentes, das esportivas, das religiosas, dos serviços médicos e odontológicos, entre outros.
Os estabelecimentos educacionais de 1919 existentes eram o grupo escolar estadual Dr. Washington Luis, que foi dirigido pelo professor Odilon Côrrea até junho de 1919, sendo sucedido pelo professor Rodrigo Netto e em seguida, a partir do mês de outubro do mesmo ano, pelo professor Romano Barreto; as escolas municipais urbanas femininas e masculinas noturnas, além das escolas isoladas mistas, como a escola do Bairro da Ilha, ficava sob a regência do senhor Manoel Camillo; a escola da Macaúbas, ficava sob a regência do senhor Américo Gaeta; a escola de Aparecida dos Batataes, ficava sob a regência do senhor Antônio de Paula Santos Filho e, em seguida, esteve sob a regência do senhor Arlindo Affonso de Toledo; a escola feminina do Bairro do Castelo ficava sob a responsabilidade da professora Lucinda Ramos Correa (exonerada a seu próprio pedido em agosto de 1919).

Divulgação do Colégio Diocesano

Havia também os colégios particulares, como o internato e externato Colégio Diocesano de São José, situado no bairro do Castelo, à época administrado pelos Padres da Congregação do Verbo Divino, atualmente Colégio São José, dirigido pelos Padres Claretianos; o externato e internato Colégio Soares, em seu 7º. ano de funcionamento à antiga Rua Afonso Pena, atual Rua Monsenhor Alves e o colégio feminino Nossa Senhora Auxiliadora, à Rua Celso Garcia e adjacências, sob os cuidados das Irmãs Salesianas, sendo dirigido em 1919 pela irmã Tarcilla Tabasso.
A vida social e noturna da cidade devia ser bastante movimentada para a época, afinal tínhamos em funcionamento o Teatro (ou Salão) São Carlos, da empresa Cursini e o Salão Santa Cecília, sob a direção de Adolpho Vietti, que promoviam espetáculos teatrais, musicais e bailes, além da exibição de filmes; existiam também a Banda Euterpe Batataense, a Banda Santa Cecília, a Orquestra São Carlos e a Orquestra Ovídio Lima que se apresentavam nesses salões, pelas ruas da cidade, nos coretos e em saraus nas residências particulares.
Nesta época, a Sociedade Italiana promovia bailes mensais em sua sede social que ficava à Rua Coronel Joaquim Alves (Batatais possuía duas sociedades italianas que se fundiram em 1917 com o nome de uma delas, Societá Italiana di Beneficenza e Muttuo Soccorso).

Profissionais liberais
de Batatais em 1919

Os médicos moradores na cidade, mais conhecidos da época e que apareciam nas propagandas eram o Dr. José Luiz de Mesquita, o Dr. José Dutra de Oliveira, o Dr. Mário Dutra de Oliveira, o Dr. Rodolpho Gomes Pedrosa, o Dr. Francisco Torres e o Dr. José Garcia de Barros e os cirurgiões dentistas Octávio Lima, Álvaro Cardoso, Gilberto Tambellini e Colombo Mascagni. Quanto aos advogados da localidade tinham destaque o Dr. Guilherme Tambellini, o Dr. Frederico Marques, o Dr. José Arantes e o Dr. Paulo de Lacerda, ex-delegado de polícia local.
A Santa Casa de Misericórdia e a Conferência de São Vicente de Paulo publicavam, mensalmente, os movimentos e os donativos recebidos da população.
Quanto aos impostos municipais, estaduais e federais, como o imposto predial, o imposto agrícola e pastoril, o imposto de viação, o imposto sobre a produção de café, o imposto sobre indústria e profissão, o imposto de veículos, o imposto de consumo de aguardente, o imposto sobre prédios de aluguel, o imposto de 5% sobre os juros de capital emprestado, o imposto de aforamento, entre outros, eram impressos nos jornais locais para que todos tomassem ciência de seus débitos.
As propagandas e anúncios publicados na ‘Gazeta de Batataes’ vinham com testemunhos e receitas, voltados, na maioria das vezes, para senhoras, jovens mulheres e crianças. Tentavam vender e anunciavam desde pensões para estudantes e professores a

Detalhe das iniciais da Santa Casa de Batatais no antigo portal interno do hospital.

serviços advocatícios, farmacêuticos, médicos, serviços manuais e manufaturados como alfaiataria e modistas, além de medicamentos como vermífugos, digestivos, depurativos, fortificantes, antigripais, depilatórios, loções capilares, secativos de espinha, estimulantes de apetite – o famoso Exilir Nogueira. Para o conhecido chulé, anunciavam o Polvilho Diachilão Baruel. Chegavam a anunciar fórmulas contra doenças sexualmente transmissíveis (DST), como a sífilis, no caso, o Exilir de Salsa.

 

PARA O MÊS DE JUNHO DE 1919, FORAM SELECIONADAS AS NOTÍCIAS ABAIXO:
Com o fim da 1ª. Guerra Mundial foi feita uma estimativa dos custos da guerra bem curiosa, que reproduzimos: “a guerra européa custou ao mundo (entre aliados e inimigos) a formidavel quantia de 35 bilhões de libras esterlinas. Si se pudesse colocar estas moedas, uma sobre a outra, far-se-ia uma pilha aérea, 7.202 vezes a altura do Monte Branco. Si as dispuzessemos em fila, uma enconstada a outra, obteríamos uma fileira que poderia dar a volta do globo terrestre mais de 18 vezes. Supponha-se agora que se precisasse transportar em trem de ferro esses 35 bilhões de libras. Seriam necessários 15.556 vagões com a capacidade de 18 toneladas cada um; o comboio ocuparia a extensão de 94 kilometros.’’
Um novo local para hospedagem foi aberto na cidade, o Hotel São José, montado à Praça Cônego Joaquim Alves, nº 33, sob direção das viúvas Delmira Rezende & Irmã.
No mês de junho foi cobrado entre outros impostos, o imposto municipal sobre o café. À época este imposto aparecia nominalmente no jornal e com isso, os três maiores contribuintes foram José Martins de Barros, seguido por Dirceu L. Cardoso e Luiz Faccion.
Um dos números do jornal do mês de junho deu especial destaque – inclusive com foto – a um dos membros da família Pinto Nazário, no caso, o aniversariante do mês, o advogado João Paulino Pinto Nazário, que à época foi secretário do governo do Estado, na gestão do Doutor Altino Arantes.
Sobre o consumo do álcool, o jornal trouxe duas notícias: a primeira tratou do início da execução da ‘Lei Seca’ em todo território dos Estados Unidos da América com a proibição do fabrico, venda e consumo de bebidas alcóolicas e a segunda em Paris, capital da França, que por meio de instruções policiais ficou instituído o consumo de bebidas alcóolicas somente para homens depois das refeições das 12 horas e das 20 e 22 horas nos estabelecimentos comerciais e a proibição da venda e consumo para mulheres e menores de 18 anos.
Em termos cristão religiosos, Batatais ficava animada por conta dos festejos juninos, em especial com a Festa de Santo Antônio e suas novenas realizadas na Capela dedicada ao santo. Por conta daqueles festejos, a Prefeitura permitia o uso de fogos de artifício às vésperas e nos dias de Santo Antônio, São João e São Pedro na cidade, fora dessas datas era proibido e incorria em multa.
As aulas do Grupo Escolar Dr. Washington Luís e das escolas isoladas que estavam suspensas devido a epidemia de Gripe Espanhola ou Influenza Espanhola, desde de novembro do ano anterior, depois de passarem por desinfecção, esterilização e nova pintura, foram reiniciadas no mês de junho de 1919.
Quando o assunto é Gripe Espanhola, é interessante indicar o que foi noticiado, entre os meses de outubro de 1918 e fevereiro de 1920, período acentuado da doença no município.
As notícias sobre a epidemia de Gripe Espanhola começaram pela sua chegada na cidade de Ribeirão Preto, com 42 casos confirmados em outubro. Muito em função dessa informação, foram divulgadas algumas medidas preventivas e profiláticas tomadas pelo nosso município, com vistas a evitar a sua instalação na cidade: desde orientações para o uso de chá de folhas de goiabeira, o uso do alho e cebola à repouso.
Além disso, o então prefeito municipal, Major João de Andrade Junqueira, para evitar aglomerações e maior contágio, suspendeu os concertos nos jardins públicos e os eventos nos salões locais. Devido a Gripe também foram suspensas as festas religiosas do mês de novembro e foi pedido a população que evitasse romaria aos cemitérios no Dia de Finados.
Em Batatais, um mês depois, em novembro de 1918, foi estimada a existência de 60 casos confirmados da doença, além do óbito de cerca de 20 pessoas. Com isso, foram instalados dois hospitais de apoio aos menos favorecidos, que foram atendidos gratuitamente: um feminino, no Salão Santa Cecília e outro masculino, no Grupo Escolar Dr. Washington Luís. Além desses dois hospitais de apoio, a Conferência São Vicente de Paulo e a Santa Casa de Misericórdia atenderam a população. No caso da Conferência com suprimentos e medicação aos necessitados.
O jornal apresentou ainda uma lista nominal dos apoiadores dos hospitais de Campana que de forma direta ajudaram os enfermos, entre outros, os médicos voluntários Dr. José Dutra de Oliveira e o Dr. Francisco Simões da Costa Torres; o farmacêutico José Theodoro da Silva Dedéca e a enfermeira Dona Bazília Hortência Rosa.
No fim do mês de dezembro de 1918, a epidemia de Gripe Espanhola foi considerada extinta. Por isso, os hospitais de Campana montados para este fim foram fechados. O total de óbitos na cidade foi de 30 pessoas (foi apresentado o registro do número de mortos com nome e idade). No distrito de Matto Grosso de Batataes, atual Altinópolis, o total de óbitos foi de 14 pessoas.
Essas e outras histórias do cotidiano de Batatais são possíveis de serem contadas graças aos jornais da época. Daqui 100 anos, o JORNAL DA CIDADE, poderá cumprir esta mesma tarefa, seguindo a roda da vida.