BNCC – competências socioemocionais e o trabalho coletivo da sociedade
A Base Nacional Comum Curricular que está chegando aos poucos às escolas neste momento tenta trazer e garantir aos alunos uma formação integral que leve-os a desenvolver sua autonomia para que consigam gerenciar a própria aprendizagem com quatro pilares que já foram apontadas pela UNESCO: aprender a aprender, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser.
Como podemos observar agora é importante articular as dimensões intelectual, socioemocional, física e cultural. Já está até virando clichê nesse início de discussão a expressão “é preciso desenvolver todas as competências que o aluno precisa para enfrentar os desafios do século XXI”.
Para desenvolver essas competências uma das grandes apostas é o desenvolvimento de competências socioemocionais – que começaram a aparecer no cenário educacional desde a década de 1990 – é preciso então entender e considerar que faz parte da inteligência saber entender, regular e usar as emoções para lidar com situações do cotidiano – ou seja – para que se consiga aprender, o aluno também tem que ter bem resolvida a parte emocional.
A escola nessa concepção passa a ser vista como um grande laboratório da vida – em que se forma um cidadão a partir de um todo: dos conhecimentos cognitivos, de um projeto de vida, da sua resiliência, do seu otimismo, da sua empatia.
De acordo com a BNCC, estudantes precisam ser capazes de:
• aprender a agir, progressivamente, com autonomia emocional, respeitando e expressando sentimentos e emoções;
• atuar em grupo de maneira funcional e se mostrar apto a construir novas relações, com respeito à diversidade e se mostrando solidário ao outro;
• saber quais são e acatar as regras de convívio social.
A competência 9 da BNCC Empatia e Cooperação já deixa claro tudo isso: “Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza.”
O desenvolvimento social pleno da criança e do adolescente tão necessário às relações com o outro chega, portanto, à escola para ser discutido, analisado e mediado pelo professor sem preconceitos, sem juízo de valor para que se consiga uma sociedade mais harmônica e solidária – sem a violência que estamos cansados de ver em nossa sociedade. Mas tudo isso só será possível se não ficar nas costas só da escola e se a sociedade, como um todo, assumir o papel de mediação: família, poder público, escola, professores e gestão escolar.
Nas trilhas da EDUCAÇÃO …
1- Universidade Federal do Rio De Janeiro tem primeira mulher como reitora – Denise Pires de Carvalho.
2- Com alto índice de reprovação, MEC incentiva denúncias contra quem incentiva e divulga protestos na educação.
3- Estão abertas as inscrições para os cursos de qualificação profissional do NOVOTEC – Expresso – até dia 16/06 – NOVOTEC Virtual – de 16/06 a 07/07 – Inscrições: www.novotec.sp.gov.br
4- JOGOS ESCOLARES Prof. José Murillo de Arruda Campos têm agitado a galera das escolas públicas e privadas, que participa dos jogos.
ESPAÇO ESCOLA
Aqui o espaço é destinado às boas práticas pedagógicas das escolas de nosso município. A cada edição mostraremos atividades que estão sendo desenvolvidas nas escolas públicas e privadas. Para ter o seu trabalho publicado aqui, basta enviar para o e-mail: evaldobaviera.jornaldacidade@gmail.com.
Nesta edição, o destaque vai para a Semana do Meio ambiente que começou em 1 de junho e foi até 5 de junho, quando se celebrou o Dia Mundial do Meio Ambiente. Para finalizar o trabalho, os alunos do sexto ano da Escola Estadual Cândido assistiram a uma palestra no BATEA ministrada pelo biólogo Fábio Picinato sobre resíduos sólidos, produção de lixo na cidade e os problemas ambientais ocasionados por este lixo se não for reciclado e reutilizado. Os alunos foram acompanhados pela professora Elaine de Sousa Junqueira e pela mediadora da unidade escolar professora Eliana Moreira de Mattos.
POESIA – O VELHO ABRIGO DA ALMA… Fica a dica! Fuvest 2020
O Claro Enigma de Drummond
Já no título, o autor trabalha com uma figura de Linguagem – o oximoro – em que palavras de sentidos opostos são combinadas de modo a parecerem contraditórias – sombra, escuridão, impasse(enigma) versus clareza, luz, evidência.
Quanto à estrutura, a obra está dividida em seis partes – I – “Entre Lobo e Cão – com 18 poemas; II – “Notícias Amorosas “ – 07 poemas ; – III – “O menino e os homens” – 4 poemas – IV – “Selo de Minas” – 4 poemas – V – “Os lábios cerrados” – 6 poemas -VI – “ A máquina do mundo” – 2 poemas . Em toda obra o que vemos são poemas permeados de dúvidas sobre a condição humana: do desejo de liberdade ao pessimismo, desencanto, dissolução humana, angústia e introspecção.
Considerado pela crítica como um livro de ruptura, pois com as publicações anteriores – Sentimento do Mundo e a Rosa do Povo – tínhamos um Drummond preocupado com o social e com os problemas da coletividade. Com Claro Enigma,1951, isso desaparece e surge um poeta extremamente reflexivo, preocupado muito mais com seu interior, alterando também a forma de sua escrita, com formas mais clássicas como o soneto – composição poética de 14 versos, duas estrofes de 4 versos e duas estrofes de 3 versos, há o resgate do verso clássico, a poesia formal, as rimas e um rigor literário muito maior do que estava acostumado, desde a década de 1930.
O livro como anunciei no primeiro parágrafo já nos mostra desde o título que a obscuridade e a clareza são coisas paradoxais começando assim um jogo de esconde e mostra de Drummond. São 41 poemas que vão conversando entre si, divididos em seis partes, cuidadosamente pensadas que dialogam uma com a outra e formam um todo.
O que se percebe desde a primeira parte é que o autor pensa minuciosamente a estrutura da obra, pois parte de poemas escuros, que lembram o sombrio, as trevas, a noite , e com o passar dos poemas, essa escuridão vai perdendo força e no término há a volta da cor e da luz, justamente, no último poema, chamado Relógio do Rosário, mostrando inclusive a ideia já constante no título: da escuridão à luz, do enigma à claridade.
A intertextualidade também é característica marcante na obra, com diálogos com Camões, Sá de Miranda e Dante.
Abaixo um poema representativo da primeira e da última parte de Claro Enigma – mostrando esse percurso de Drummond:
I -DISSOLUÇÃO
Escurece, e não me seduz
tatear sequer uma lâmpada.
Pois que aprouve ao dia findar,
aceito a noite.
E com ela aceito que brote
uma ordem outra de seres
e coisas não figuradas.
Braços cruzados.
Vazio de quanto amávamos,
mais vasto é o céu. Povoações
surgem do vácuo.
Habito alguma?
E nem destaco minha pele
da confluente escuridão.
Um fim unânime concentra-se
e pousa no ar. Hesitando.
E aquele agressivo espírito
que o dia carreia consigo,
já não oprime. Assim a paz,
destroçada.
Vai durar mil anos, ou
extinguir-se na cor do galo?
Esta rosa é definitiva,
ainda que pobre.
Imaginação, falsa demente,
já te desprezo. E tu, palavra.
No mundo, perene trânsito,
calamo-nos.
E sem alma, corpo, és suave.
VI -A Máquina do Mundo
E como eu palmilhasse vagamente
uma estrada de Minas, pedregosa,
e no fecho da tarde um sino rouco
se misturasse ao som de meus sapatos
que era pausado e seco; e aves pairassem
no céu de chumbo, e suas formas pretas
lentamente se fossem diluindo
na escuridão maior, vinda dos montes
e de meu próprio ser desenganado,
a máquina do mundo se entreabriu
para quem de a romper já se esquivava
e só de o ter pensado se carpia.
Abriu-se majestosa e circunspecta,
sem emitir um som que fosse impuro
nem um clarão maior que o tolerável
pelas pupilas gastas na inspeção
contínua e dolorosa do deserto,
e pela mente exausta de mentar
toda uma realidade que transcende
a própria imagem sua debuxada
no rosto do mistério, nos abismos.
Abriu-se em calma pura, e convidando
quantos sentidos e intuições restavam
a quem de os ter usado os já perdera
e nem desejaria recobrá-los,
se em vão e para sempre repetimos
os mesmos sem roteiro tristes périplos,
convidando-os a todos, em coorte,
a se aplicarem sobre o pasto inédito
da natureza mítica das coisas,
assim me disse, embora voz alguma
ou sopro ou eco ou simples percussão
atestasse que alguém, sobre a montanha,
a outro alguém, noturno e miserável,
em colóquio se estava dirigindo:
“O que procuraste em ti ou fora de
teu ser restrito e nunca se mostrou,
mesmo afetando dar-se ou se rendendo,
e a cada instante mais se retraindo,
olha, repara, ausculta: essa riqueza
sobrante a toda pérola, essa ciência
sublime e formidável, mas hermética,
essa total explicação da vida,
esse nexo primeiro e singular,
que nem concebes mais, pois tão esquivo
se revelou ante a pesquisa ardente
em que te consumiste… vê, contempla,
abre teu peito para agasalhá-lo.”
As mais soberbas pontes e edifícios,
o que nas oficinas se elabora,
o que pensado foi e logo atinge
distância superior ao pensamento,
os recursos da terra dominados,
e as paixões e os impulsos e os tormentos
e tudo que define o ser terrestre
ou se prolonga até nos animais
e chega às plantas para se embeber
no sono rancoroso dos minérios,
dá volta ao mundo e torna a se engolfar,
na estranha ordem geométrica de tudo,
e o absurdo original e seus enigmas,
suas verdades altas mais que todos
monumentos erguidos à verdade:
e a memória dos deuses, e o solene
sentimento de morte, que floresce
no caule da existência mais gloriosa,
tudo se apresentou nesse relance
e me chamou para seu reino augusto,
afinal submetido à vista humana.
Mas, como eu relutasse em responder
a tal apelo assim maravilhoso,
pois a fé se abrandara, e mesmo o anseio,
a esperança mais mínima — esse anelo
de ver desvanecida a treva espessa
que entre os raios do sol inda se filtra;
como defuntas crenças convocadas
presto e fremente não se produzissem
a de novo tingir a neutra face
que vou pelos caminhos demonstrando,
e como se outro ser, não mais aquele
habitante de mim há tantos anos,
passasse a comandar minha vontade
que, já de si volúvel, se cerrava
semelhante a essas flores reticentes
em si mesmas abertas e fechadas;
como se um dom tardio já não fora
apetecível, antes despiciendo,
baixei os olhos, incurioso, lasso,
desdenhando colher a coisa oferta
que se abria gratuita a meu engenho.
A treva mais estrita já pousara
sobre a estrada de Minas, pedregosa,
e a máquina do mundo, repelida,
se foi miudamente recompondo,
enquanto eu, avaliando o que perdera,
seguia vagaroso, de mãos pensas.