Quando em 1822, no dia sete de setembro D. Pedro I proclamou a independência do Brasil, o país não se tornou livre como talvez possamos imaginar. Tudo não passou de uma grande jogada política feita por D. João VI e pelo seu filho Pedro.
Para entendermos melhor o período histórico em questão, é importante observarmos os fatores internos e externos que regiam o momento. Vejamos de forma sucinta como tudo transcorreu.
No começo do século XIX Napoleão conquistava toda Europa e Portugal não estava fora de seus planos, o objetivo maior de Bonaparte era a Inglaterra, mas para conquistá-la tinha que bloquear o continente para que a economia britânica fosse estrangulada uma vez que invadir a ilha inglesa era impossível. Então ele fez o Bloqueio Continental, na tentativa de isolar a Inglaterra e punir aqueles que com ela negociasse.
D. João VI desrespeitou as ordens do imperador francês. Ao tomar conhecimento, Napoleão ficou furioso e determinou a invasão e a submissão total de Portugal. Rapidamente o príncipe português reuniu seus amigos e zarpou para o Brasil, com ajuda da Inglaterra.
Era 1808, depois de 30 dias eles chegaram a Bahia doentes, esfomeados, desidratados, fétidos e abundantes de arrogância. Imediatamente seguiram viagem para o Rio de Janeiro, então capital da colônia, apropriaram-se das melhores casas e instalaram-se por lá.
Para acomodar a nobreza, mal acostumada e preguiçosa D. João VI teve que construir um aparelho de Estado criando órgãos públicos e loteando cargos que se sustentavam a base da mais descarada corrupção e fortalecendo uma terrível burocracia. Essa herança lusitana ainda molda nossa cultura.
Pressionado constantemente pela Inglaterra, a realeza aqui instalada foi obrigada a fazer concessões horrorosas e humilhantes aos ingleses que haviam auxiliado na fuga para não sucumbir ao imperador francês. Em 1810 o Brasil já era dependente economicamente da Inglaterra e a França defenestrava a pátria portuguesa.
Nós não éramos mais colônia, pois a família real aqui estava e não éramos metrópole. Viramos Vice- Reino!!
Com a queda de Napoleão na batalha de Waterloo, a Europa rearranja seu espaço geopolítico e a burguesia mercantil portuguesa pede a volta de D. João VI para Portugal para que lá se fizesse uma Monarquia Constitucional, muito em voga na Europa naquela época. D. João zarpa, mas deixa seu filho D. Pedro I em terras brasileiras e diz a ele o seguinte: “Pedro faça a independência antes que um aventureiro faça por ti”. Sábias foram as palavras do pai, o continente americano estava passando por um processo de libertação depois que os EUA fizeram a sua independência junto aos ingleses. Se D. Pedro não fizesse, outro faria.
Pensando no argumento paterno, D. Pedro foi além e chegou à seguinte conclusão: “Vou ser imperador do Brasil e quando meu pai morrer serei Rei de Portugal”. Nada mal, um pé na América e outro na Europa, tendo o Atlântico no meio. Não era pequeno o sonho do português.
De nada adiantou o apelo das Cortes portuguesas para que D. Pedro voltasse e o Brasil fosse recolonizado. Ele ficou achando que era para o bem de todos e a felicidade geral da nação. Nada disso, ficou porque era bom para ele.
Resultado da nossa independência: um português que fez, pensando nos seus próprios interesses, portugueses foram nomeados para os principais cargos, ficamos dependentes economicamente da Inglaterra e tivemos que pagar por tudo isso milhões de libras esterlinas (moeda inglesa), claro sem ter nada nos cofres, porque quando D.João VI foi embora ele enfiou as mãos nos cofres do Banco do Brasil e levou tudo embora na maior tranquilidade.
Em 1823, ninguém mais suportava D. Pedro I, seu despotismo estava claro e em 1831 teve que partir para Portugal.
Seu período foi melancólico com erros gravíssimos. Sua despedida não deixou saudades. Alguns defendem que a verdadeira independência do Brasil começaria com essa partida, pois o Partido Português já estava enfraquecido e agora pela primeira vez o Brasil seria governado pelos brasileiros, os Regentes.
Mas isso é outra tese, outra história. Vamos comemorar a oficial. 201 anos de independência em 2023.