Será que temos necessidade de pensar?
Sob a alegação de dar retorno rápido aos contribuintes – respeitando o dinheiro daqueles que pagam impostos – o ministro da Educação Abraham Weintraub – surpreendeu a nação brasileira com o anúncio de que descentralizará os investimentos em faculdades de Filosofia e Sociologia.
Segundo fala do próprio ministro nas redes sociais, esta ação tem como meta investir mais em áreas como veterinária, engenharia e medicina.
Ação como essa, senhor Ministro, só confirma aquilo que temos visto nestes quatro meses de governo Bolsonaro – a educação não está sendo levada a sério, estamos caminhando como caranguejos – para trás – na área mais importante para o desenvolvimento de um país, pois como já dizia Monteiro Lobato um país se faz com homens e livros, mas para isso precisamos de homens que queiram fazer educação.
Ao contrário de outras esferas do conhecimento, as ciências sociais não são tão evidentes aos olhos das pessoas e isso gera aos apressados a dedução de que elas não trazem contribuições práticas, significativas para a humanidade.
Mas diante da sociedade atual com características de desequilíbrio em todos os sentidos, assistimos a muita indignidade para com o ser humano, com muita indiferença e muita arrogância de quem se diz inteligente e evoluído, e por isso a primeira, simples e necessária contribuição das ciências sociais é entender como funciona a própria sociedade. Oras bolas, pensar não é necessário?
Sabemos que é uma ação fundamental, pensar produz conhecimento que vai ser compartilhado coletivamente e assim vai estruturando as formas de organização da sociedade em que vivemos. É inegável a importância das ciências sociais que são verdadeiras fontes de conhecimento, de ação humana, de avanço, de transformação social, política e cultural, que ao longo do tempo vai ajudando a sociedade a se construir em relação aos seus valores, às suas práticas, às relações sociais.
Quanto à filosofia, o caminho é o mesmo. Nossa sociedade muda a passos largos com o advento da tecnologia – o que se tem hoje de certeza, amanhã pode ser que não exista mais – e para entendermos essas mudanças de paradigma, a filosofia é importantíssima.
Então, senhor Ministro, o pensamento do MEC, instituição liderada pelo senhor, caminha na contramão do conhecimento, pois não vejo nenhum curso – nem mesmo os tarjados pelo senhor como de retorno imediato para o contribuinte – sofrer mudanças, produzir conhecimento, melhorar, sem que passe por longas discussões – matéria-prima da sociologia e da filosofia.
Nas trilhas da EDUCAÇÃO …
ENEM 2019 – as inscrições começaram em 6 de maio e terminam em 17 de maio.
MEC cortou verba de três universidades federais, 30% a menos no orçamento – e a qualidade deve cair. Que pena!
Governo Dória anuncia férias escolares de 4 períodos em São Paulo a partir de 2020.
Governador do Estado amplia quantidade de horas e aulas para 2020 – serão sete aulas diárias de 45 minutos nas escolas do 6º ao Ensino Médio – medida implica em 15 minutos diários a mais e cinquenta horas anuais.
ESPAÇO ESCOLA
Aqui o espaço é destinado às boas práticas pedagógicas das escolas de nosso município. A cada edição mostraremos atividades que estão sendo desenvolvidas nas escolas públicas e privadas. Para ter o seu trabalho publicado aqui, basta enviar para o e-mail: evaldobaviera.jornaldacidade@gmail.com.
Nesta edição, o destaque vai para o trabalho realizado pela E.E Geraldo Tristão de Lima que desenvolveu um trabalho com os temas da Agenda Ambiental e enriqueceram bastante o currículo atuando de forma significativa na comunidade escolar. Os assuntos propostos estão diretamente ligados à prática de sustentabilidade e prevenção.
Diante do aumento dos casos da dengue nessa época do ano, observou-se a necessidade da conscientização e prevenção através de atividades e ações que contribuirão para amenizar a proliferação do Aedes Aegypti.
As atividades foram realizadas pela professora Ivy Maia Covas, nas aulas de Orientação de Estudos, contando com a colaboração e envolvimento de toda a escola. Parabéns à professora e equipe escolar pelo trabalho.
Fica a dica! Fuvest 2020
No Fica a dica de hoje começo a trazer para os vestibulandos uma pequena resenha dos livros que serão cobrados no Vestibular do FUVEST 2020. A resenha foi escrita por uma graduanda do Curso de Letras da UNICAMP – a Mariana Vitória de Paula Caetano do Nascimento – minha aluna durante 13 anos – apaixonada por leitura – escritora desde a infância. A obra em questão é Mayombe de Pepetela – autor africano. Fica a dica!
“Mayombe é uma das obras da lista de livros do vestibular da Fuvest desse ano. O nome da obra refere-se a uma região de floresta tropical presente na África Ocidental, abrangendo parte da República Democrática do Congo, de Angola, da República do Congo e do Gabão. O romance que leva o nome da floresta foi publicado em 1980 e é de autoria do escritor angolano Artur Carlos Maurício Pestana, conhecido como Pepetela, o qual participou da guerra de libertação de Angola durante a década de 1970. O livro trata justamente desse evento e dos desafios enfrentados pelos guerrilheiros do MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola), tanto na luta contra os colonizadores portugueses, quanto no convívio entre si. O tribalismo, o egoísmo e a corrupção permeiam as relações das personagens, embora valores como amizade, companheirismo, fidelidade e amizade também estejam presentes nas várias situações descritas na história. Vale ressaltar a polifonia construída com maestria presente na narrativa, uma vez que Pepetela dá voz a vários guerrilheiros que possuem diferentes origens, propostas e ideologias frente ao movimento, à vida e à Angola independente à qual aspiram. As realidades conflitantes desses múltiplos narradores configuram obstáculos na luta pela mesma unidade libertadora. Daí a importância e necessidade da unificação das lutas visando alcançar um objetivo comum.
Ao mesmo tempo em que as vozes de diferentes guerrilheiros são intercaladas, há a presença de um narrador onisciente, ou seja, aquele que tem conhecimento dos sentimentos, pensamentos e reflexões das personagens, e oferece ao leitor tais informações. Por meio delas, temos acesso aos questionamentos e as inseguranças de cada um ali, e percebemos o quão difícil se faz a organização de um movimento de independência, principalmente quando há diferentes ideais e mentalidades conflitantes envolvidas. No entanto, são justamente essas diferenças que devem fortalecer o MPLA, ao invés de serem vistas como obstáculos à sua articulação e eficiência.
Enfim, a leitura de Mayombe é de suma importância, não apenas para uma mera prova, mas para se compreender a validade da superação das divergências em favor da unificação das lutas e dos objetivos que se busca alcançar.”
POESIA – O VELHO ABRIGO DA ALMA…
O Cão Sem Plumas
A cidade é passada pelo rio
como uma rua
é passada por um cachorro;
uma fruta
por uma espada.
O rio ora lembrava
a língua mansa de um cão
ora o ventre triste de um cão,
ora o outro rio
de aquoso pano sujo
dos olhos de um cão.
Aquele rio
era como um cão sem plumas.
Nada sabia da chuva azul,
da fonte cor-de-rosa,
da água do copo de água,
da água de cântaro,
dos peixes de água,
da brisa na água.
Sabia dos caranguejos
de lodo e ferrugem.
Sabia da lama
como de uma mucosa.
Devia saber dos povos.
Sabia seguramente
da mulher febril que habita as ostras.
Aquele rio
jamais se abre aos peixes,
ao brilho,
à inquietação de faca
que há nos peixes.
Jamais se abre em peixes.
(João Cabral de Melo Neto)
O poema foi escrito por João Cabral de Melo Neto – que nasceu na cidade do Recife, em 6 de janeiro de 1920 e faleceu no dia 9 de outubro de 1999 – retrata a degradação do Rio Capibaribe – símbolo da cidade de Recife. O poeta tem como ponto forte de sua poesia a denúncia social. Pelos versos, percebemos os problemas relacionados ao meio ambiente e as condições desumanas das pessoas que viviam em sua terra natal.