O golpe militar de 1964 no Brasil, que chega aos 60 anos de sua decretação, foi resultado de tensões políticas e sociais, com a justificativa principal de conter supostas ameaças comunistas. No dia 31 de março de 1964, as Forças Armadas, lideradas pelos generais Humberto de Alencar Castelo Branco e Artur da Costa e Silva, dentre outros, depuseram o então presidente João Goulart, democraticamente eleito vice-presidente em 1960, e que havia assumido a presidência no lugar de Jânio Quadros, que renunciara 3 anos antes.
O mundo vivia o auge da Guerra Fria, que contribuiu para a polarização política de forma geral, e no Brasil, setores conservadores da sociedade apoiados por segmentos militares, empresariais e parte da classe média, temiam uma suposta infiltração comunista no governo federal. Com esse clima de tensão e incerteza, e sem muita resistência da população, o golpe resultou na instauração de um regime militar que perdurou por mais de duas décadas.
Durante o regime militar, houve censura, repressão política, fechamento do congresso, perseguição a opositores e supressão de direitos civis. Com o passar dos anos, o regime começou a enxergar o crescimento de uma resistência da sociedade civil, principalmente vinda de movimentos estudantis, classe artística, e setores progressistas que demandavam o retorno à democracia. Iniciava-se o período mais radical da ditadura militar.
Os “anos de chumbo”, período mais duro e repressivo do regime militar no Brasil, ocorreu especialmente entre o ano 1968 e o final da década de 1970. Essa fase foi marcada por uma intensificação da repressão política, censura, perseguições, torturas e violações dos direitos humanos. O marco inicial foi a decretação do AI-5 (Ato Institucional nº 5), que em dezembro de 1968 conferiu amplos poderes ao regime, suspendendo garantias constitucionais, permitindo o fechamento do Congresso Nacional, cassação de mandatos, prisões arbitrárias e censura à imprensa.
Nesse período houve uma intensa perseguição a opositores políticos, artistas, intelectuais e estudantes considerados subversivos pelo regime. Muitos foram presos, torturados, exilados ou mortos. A censura à imprensa e manifestações culturais foi uma prática comum durante os anos de chumbo, com livros, músicas, filmes e peças de teatro eram sujeitos a rigorosa análise e muitas vezes proibidos. E por consequência, foi um período de ebulição cultural nunca antes visto em nosso país até aquele momento.
Foi quando pela primeira vez a população tomou conhecimento da sigla DOI-CODI – Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna, que nada mais era do que uma unidade do Exército responsável por atividades de inteligência e repressão, onde muitos opositores do regime foram detidos, interrogados e expostos a torturas físicas e psicológicas. Muitos morreram por lá, e simplesmente desapareceram.
Foram quando se multiplicaram as organizações de resistência armada, para agirem como uma resposta ao regime, como a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) e a Ação Libertadora Nacional (ALN). Esse enfrentamento com o regime, em especial no final dos anos 60 e início dos 70, resultou em atentados, sequestros e confrontos violentos.
A pressão popular tornou-se cada vez maior, e ao final da década de 70, foi inevitável para os militares iniciarem um processo de abertura política gradual. Em 1985, o regime militar chegou ao fim com a eleição indireta de Tancredo Neves como presidente, marcando o início da transição para a democracia.
O marco de 60 anos do Golpe Militar de 1964 não é uma data comemorativa, mas um momento de reflexão de tempos que não mais hão de voltar. A liberdade e o livre arbítrio sempre serão os bens maiores da humanidade.