Sim, passados 35 anos de sua realização (foi feita em 1984), esta obra-prima do alemão WIN WENDERS, não envelheceu, não ficou datada e ao ser revista ou revisitada continua emocionante e cheia de humanismo.
Vencedor na época de todos os principais prêmios do Cinema Mundial, como o festival de Cannes, Berlim, França e tantos outros, a película teve direção primorosa de Win Wenders, que depois faria também o notável “Asas do Desejo”. Roteiro de Sam Shepard e Kit Carson, trilha musical que ficou mundialmente famosa do guitarrista Hy Cooder, fotografia de Robby Muller e as impecáveis interpretações de Harry Dean Stanton, Dean Stockwel, Aurora Clement, o menino Hunter Carson e especialmente da deslumbrante e perfeita Nastassja Kinski, que surge decisiva no filme a partir da sua terceira parte, numa interpretação única e insuperável, sobretudo naquele segundo encontro com Travis, no quarto do peep-shop, quando na tentativa de reconhecer o interlocutor através do vidro que os separa, um seu olhar vago ou ansioso, um esboço de sorriso, uma frase entrecortada, ou um silêncio denso, tudo ali adquire uma força, uma tensão e uma dramaticidade que somente uma atriz excepcional como ela poderia ter conseguido, coadjuvada pelo intenso Dean Stanton.
Aliás, revendo hoje o filme, entende-se mais coisas ainda. Desde o início, da aridez do deserto do Mojave, no Texas, onde Travis vaga abúlico, sem rumo certo, até o final em Houston, onde Travis reencontrará Jane, através dos vidros daquele peep-shop e suas cores vermelhas, passando pelo reencontro em Los Angeles, com o filho de 8 anos e consigo mesmo, entenderemos mais sobre estes trágicos personagens, o sentido da vida e da condição humana.
Filme magnífico e essencial. Se se diz que o cinema imita a vida, aqui não, estamos diante da própria vida em 24 quadros por segundo.
Assim, imperdível vê-lo ou revê-lo, até para se saber (a quem possa interessar) o que é o verdadeiro Cinema.