O Centro de Documentação da II Guerra, vem ao longo do tempo ampliando a divulgação do seu acervo. Esse espaço de memória guarda objetos variados, que sua idealizadora, a capitã enfermeira Altamira Pereira Valadares, chamou de ‘mostruário de guerra’.
Trazemos aqui a denominação “capitã”, mesmo sabendo que a denominação correta dentro da classe militar é “capitão”; todavia, o termo capitã também é aceito na língua portuguesa e era o termo pelo qual Altamira se autodenominava.
O ‘mostruário de guerra’ é composto por ferramentas de enfermagem da campanha, vestuários, uniformes, insígnias, vestígios bélicos, objetos do cotidiano de guerra, postais, documentos oficiais, diplomas, condecorações, memórias de guerra, fotografias, livros entre tantos outros.
O espaço possui entre diversos objetos em exposição, um apanhado ordenado de folhas datilografadas compondo fragmentos do que deveria ser o esboço do livro de memórias pessoais da capitã Altamira Pereira Valadares sobre suas narrativas pessoais da guerra como enfermeira da FEB durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Essas folhas estão organizadas numa pasta formando um arranjo para um fututo livro construído por Altamira, composto por um diário de memórias pessoais da patrona do espaço de memória.
O diário datilografado não está completo, faltam páginas, o que acarreta a fragmentação dos relatos nas sequências cronológicas. Podendo o leitor/pesquisador perder-se nas narrativas. O diário teria sido revisado e datilografado nas décadas de 60 e 70, com a intenção de ser ampliado com outras informações e dados para ser editado, publicado como livro com mais duas partes: I. Serviço de Saúde; II.O diário de Guerra; III. O Álbum Biográfico das Febianas; este último já publicado em separado. A publicação total desses escritos sempre foi o ideal expresso da capitã Altamira Pereira Valadares, que deveria receber o nome de FEBIANAS.
Se as cópias datilografadas eram uma realidade, havia a possibilidade da existência dos manuscritos inéditos; porém não estes constavam dos bens da reserva técnica do Centro de Documentação da II Guerra. A outra grande possibilidade era que a família ainda os conservassem entre os bens deixados pela capitã. Para contentamento de todos, os manuscritos originais, escritos durante a guerra pela enfermeira Altamira existiam. Estavam entre a documentação que os herdeiros legais ainda guardam sobre a trajetória da capitã Altamira. O diário manuscrito é composto por dois cadernos – encontrados num intervalo de quase 1 ano entre um e outro.
Por doação formal, os dois volumes manuscritos do diário foram incorporados festivamente ao acervo do Centro de Documentação da II Guerra. A escolha do nome DIÁRIO DE GUERRA foi feita pela própria capitã quando deu início aos seus escritos desde os primeiros preparativos para a guerra. O que demonstra um desejo prévio da autora de já escrever suas vivências na guerra!
De posse do diário completo, o Centro de Documentação da II Guerra mobilizou algumas ações envolvendo o mais novo e central objeto incorporado ao acervo, o DIÁRIO DE GUERRA. Contamos para isso com colaboradores e a parceria com instituições de ensino e pesquisa da cidade e da região.
Uma das ações contínuas foi a ampliação do acesso virtual do visitante do Centro de Documentação da II Guerra às redes sociais. O potencial visitante foi atraído por atividades desenvolvidas para estimular e aguçar a curiosidade sobre as histórias que os objetos carregam. Mesmo com o espaço fechado para visitação presencial, o visitante pode conhecer um pouco do ‘mostruário de guerra’ e melhor interagir por meio das participações propostas pela equipe do Centro no ambiente virtual.
Outra ação para atrair o público a conhecer um pouco mais do universo da guerra e da própria capitã Altamira Pereira Valares, patrona do Centro de Documentação da II Guerra foi a divulgação de textos sobre a enfermeira e assuntos relacionados ao universo da guerra contidos em seu diário ou outros temas relacionados ao acervo existentes no espaço.
Essas breves pesquisas realizadas pelos funcionários do Centro de Documentação da II Guerra e Museu Histórico e Pedagógico ‘Dr Washington Luis’ foram publicadas no Jornal A Cidade de Batatais. Para o leitor que queira ler as edições anteriores sobre a capitã Altamira e sobre outros assuntos da Coluna Giro Histórico e Cultural, o jornal tem sua versão online de acesso público e gratuito. É só acessar: https://jornaldacidadebatatais.com.br/colunas/giro-historico-e-cultural/.
Os textos publicados especificamente sobre o Centro de Documentação e sua patrona foram: Altamira Pereira Valadares, edição de maio de 2019 (https://jornaldacidadebatatais.com.br/altamita-pereira-valadares/); Entre diários de guerra, edição de outubro de 2019 (https://jornaldacidadebatatais.com.br/entre-diarios-de-guerra/); O dia a dia da guerra por Altamira, edição de outubro de 2020 (https://jornaldacidadebatatais.com.br/o-dezembro-de-1944-para-altamira/); O dezembro de 1944 de Altamira, edição de janeiro de 2021 (https://jornaldacidadebatatais.com.br/o-dezembro-de-1944-para-altamira/).
A primeira parceria com instituições de ensino aconteceu com a UNESP – campus Franca, com o Centro de Documentação e Apoio à Pesquisa Histórica (CEDAPH), no ano de 2019/2020 que possibilitou a limpeza mecânica, pequenos restauros e a digitalização dos manuscritos inéditos, o que permitiu a proteção do documento propriamente dito, ficando seu manuseio restrito; ao mesmo tempo que o conteúdo do diário em meio digital poderá ser compartilhado com o público e pesquisadores em breve.
Enquanto as publicações impressas das versões fac-símile e transcrita do DIÁRIO DE GUERRA não se tornam uma realidade, o usuário encontrará a transcrição dos registros de guerra da enfermeira Altamira Pereira Valadares por meio eletrônico. No blog do Centro de Documentação da II Guerra (https://centrodocumentacaoaltamira.blogspot.com/2019/) estão postados os registros das memórias de guerra da enfermeira. Foram transcritos e postados os dois ‘diários’, o manuscrito e o datilografado, junto com adições de fotografias, postais e mesmo as imagens das páginas originais do diário e outros textos preprarados por Altamira para seu livro..
Os leitores poderão acompanhar, o dia-a-dia do conflito bélico narrado pela enfermeira contando suas experiências, emoções e impressões nos campos de batalha na Itália, quando o Brasil lutou ao lado dos EUA contra os alemães na 2ª Guerra Mundial. No blog, teremos a publicação dos manuscritos do DIÁRIO DE GUERRA até meados de agosto deste ano de 2021.
Para os interessados no cotidiano dos brasileiros na 2ª Guerra Mundial, essa é uma boa oportunidade. Ainda mais sob o olhar de uma mulher brasileira e para nossa vantagem batataense!
Entre os meses de maio e junho celebramos outra grande parceria, desta vez com o Claretiano – Rede de Educação. A instituição cedeu a edição de uma de suas revistas científicas para que fossem publicados artigos inéditos produzidos por pesquisadores que tiveram acesso exclusivo aos manuscritos originais digitalizados pelo CEDAPH/UNESP/FRANCA. A publicação recebeu o nome de DOSSIÊ CAPITÃ ALTAMIRA.
O público encontrará no DOSSIÊ CAPITÃ ALTAMIRA discussões variadas suscitadas a partir da leitura inédita do DIÁRIO DE GUERRA, como a participação das mulheres brasileiras na guerra; a História da Enfermagem; a percepção do cotidiano e das relações estabelecidas entre determinados grupos sociais; a transformação da alimentação, hábitos e trocas culturais durante a guerra, o enfrentamento do medo, entre outros.
O alvo de nosso interesse são as memórias, experiências, enfim, o legado deixado pela mulher, brasileira, batataense e enfermeira Altamira Pereira Valadares. Por isso, não podemos deixar de citar que o mês de maio também é especial para os profissionais da enfermagem. No 12 de maio é comemorado o DIA INTERNACIONAL DA ENFERMAGEM. As maiores referencias da enfermagem para a mulheres da época da formação de Altamira e das épocas seguintes, foram a britânica Florence Nightingale nascida em 12 de maio de 1820 e falecida em 1910 e a brasileira Anna Nery nascida em 1814 e falecida em 20 de maio de 1880.
CRONOLOGIA DO CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO DA II GUERRA
1945-1964 – Altamira retorna da guerra e continua a morar no Rio de Janeiro. Nesse período, compõe seu grande acervo (sem catalogação), mas que certamente ultrapassava a quantidade de mil unidades entre livros, documentos, fotografias, indumentárias, recortes de jornais, postais e objetos.
1964 – Altamira volta a residir em Batatais. Inicia a árdua tarefa de conquistar um espaço para abrigar e expor sua coleção particular.
1967/1969 – Após três anos residindo em Batatais, recebe a autorização do poder executivo para montar uma exposição no porão do Teatro Municipal Fausto Bellini Degani em construção para as comemorações da Semana da Pátria. A exposição por lá permaneceu por um pouco mais de um ano, e depois seguiu por um tempo para um antigo salão do Colégio São José, também em Batatais.
Décadas de 70 e 80 – parte do acervo também foi exposto no Museu Histórico e Pedagógico Dr. Washington Luís (na época localizado no auditório do Grupo Escolar EESA, sob a direção de Willian Pereira Arantes, atual Centro Cultural Sérgio Lauratto) e no Museu do Café em Ribeirão Preto.
1988 – Com a inauguração da Casa da Cultura de Batatais, Altamira consegue da administração municipal a cessão de 3 salas para montar uma exposição de seu ‘mostruário de guerra’.
1993 – Insatisfeita com a forma como o acervo era preservado e colocado à visitação do público, Altamira inicia nova batalha pela conquista de um espaço totalmente independente, tendo recebido autorização da 2ª Região do Comando Militar do Sudeste (Ministério do Exército) para a construção de edificação para abrigar o Centro de Documentação, em anexo ao Tiro de Guerra 02-047 de Batatais em julho de 1993, com lançamento da pedra fundamental já em agosto do mesmo ano.
1994 – Com seus próprios recursos financeiros, Altamira inaugura o assim denominado “Centro de Documentação Histórica do Brasil e Pesquisa – II Grande Guerra Mundial (1939- 1945) da Capitã Altamira Pereir Valadares” no dia 06 de maio de 1994.
2001 – Ocorre o ato de entrega oficial do Centro de Documentação à administração municipal, em 31 de maio.
2004 – Falecimento de Altamira. apenas após seu falecimento é que o poder público pode efetivamente iniciar a gestão de seu acervo. Durante este processo e até os dias atuais, a configuração do Centro de Documentação foi modificada com a baixa do acervo que não tinha relação direta à II Guerra Mundial e aquisição de relevante acervo que estava sob a posse pessoal de Altamira em sua residência.
2008 – Nova museografia foi implantada e o Centro de Documentação da II Guerra passou a receber a visitação de todas as faixas etárias com monitorias e ações educativas específicas para cada público.
2009 – A ação educativa “Um novo contato com a Itália” foi agraciada com a Menção Honrosa do Prêmio Darcy Ribeiro promovido pelo Instituto Brasileiro de Museus e saiu na publicação “Educação museal: experiências e narrativas” pelo IBRAM.
2012 – A ação educativa “Fronteiras” foi reconhecida pela temática inovadora de envolver artistas da cidade na elaboração de malas inspiradas em cartas retiradas do livro “Cartas do Front” de Andrew Carroll e foi agraciada com a Menção Honrosa do Prêmio Darcy Ribeiro promovido pelo Instituto Brasileiro de Museus.
2015/2017 – Exposição interativa, educativa e itinerante “O Diário de Anne Frank”
2017/2018 – O Centro de Documentação da II Guerra integra o programa Roda SP, onde ocorre a visitação programada a diversos espaços de memória e culturais da região, realizada num único dia .
2019 – O Centro de Documentação da II Guerra comemora 25 anos de sua instalação. Para coroar esta data agrega ao seu acervo os manuscritos originais do DIÁRIO DE GUERRA da capitã enfermeira Altamira Pereira Valadares. Sela parceria com o CEDAPH/UNESP para digitalização dos manuscritos originais.
2020 – Pesquisadores da região são convidados a fazer a leitura inédita dos manuscritos originais e a desenvolver textos.
2021 – Publicação dos artigos pela CLARETIANO e publicação dia-a-dia do DIÁRIO DE GUERRA pelo blog do Centro de Documentação.