Surreal! Em pleno auge da pandemia de do coronavírus em nosso país, o Presidente Bolsonaro anunciou um novo ministro da saúde, o quarto em dois anos e três meses de governo, causando uma série de incertezas em relação à condução do combate a crise sanitária, num momento totalmente inoportuno. Pior, por oito longos dias após o anúncio do novo ministro, tivemos um ministro da saúde já demitido que continuou no cargo: Eduardo Pazuello, um ministro da saúde escolhido e sem poder de ação: Marcelo Queiroga, e um ministro da saúde “de fato” que continuou mandando e desmandando no ministério: Jair Bolsonaro. O mais constrangedor nesse caso, é que a percepção geral é que na realidade não temos absolutamente nenhuma direção no Ministério, no pior momento da pandemia de Covid-19 em nosso país.
Eduardo Pazuello, o general de três estrelas do Exército Brasileiro, especialista em gestão e logística que mal sabe organizar a distribuição de vacinas no território nacional, é investigado em inquérito no STF que apura sua responsabilidade na condução na pandemia. Se perdesse o foro privilegiado, fora do ministério, o inquérito desceria para a primeira instância, e Pazuello não queria nem saber dessa possibilidade, e pleiteava de qualquer forma, manter seu foro privilegiado. Parece que vai conseguir uma vaga em um novo ministério que será criado só para ele. Incrível!
Já o novo ministro Dr. Marcelo Queiroga, empossado discretamente na última terça, teve sua posse adiada ao menos duas vezes por causa de um erro primário da Presidência da República: a equipe de Jair Bolsonaro esqueceu-se de checar se Queiroga constava como administrador de alguma empresa na Receita Federal, e descobriu-se que ele é sócio administrador de duas clínicas de cardiologia em João Pessoa (PB), o que retardou a sua posse no Ministério. A assessoria presidencial definitivamente não demonstra competência na análise de curriculum de ministeriáveis… lembram do Decotelli?
O que ficou muito claro para todos os brasileiros desde a demissão de Henrique Mandetta em abril do ano passado, e de Nelson Teich menos de um mês depois, é que quem manda no Ministério da Saúde é o próprio presidente, e os demais que o obedeçam, se tiverem ou não juízo. A política a ser adotada na condução do ministério no combate da pior crise de saúde pública de nossa história, é aquela que Bolsonaro acha a ideal: sem máscara, sem vacina, sem distanciamento social, com aglomerações à vontade, com cloriquina disponível à todos. E se tudo der errado, a culpa é dos prefeitos e governadores, afinal de contas, ele é Messias, mas não faz milagres.
Mas o pior: a cabeça do presidente não está focada no combate ao coronavírus, e a salvar a vida dos brasileiros. Ele está concentrado na eleição de 2022, e por um motivo muito especial.
A péssima condução do país de forma geral, em especial durante a pandemia, já rendeu a Bolsonaro uma proeza no campo político que até pouco tempo atrás parecia praticamente impossível. Ele ressuscitou Lula!
Se nas últimas eleições presidenciais tínhamos bem definido no eleitorado a figura dos anti-petistas, responsáveis diretos pela eleição do Capitão, na próxima eleição teremos, além dos anti-petistas, a presença forte e marcante dos anti-bolsonaristas, o que levará inevitavelmente a uma polarização nunca antes vista em nossa história política recente. Essa polarização só não acontecerá se as forças de centro se mobilizem para o lançamento de uma candidatura de conciliação, com base partidária ampla, e viável eleitoralmente (não escondo de ninguém que torço para que essa última opção se concretize).
Bolsonaro nesse momento dobra a aposta, apostando na divisão do eleitorado e na fidelização de seu eleitor mais fanático, o que na sua cabeça o levaria ao segundo turno. Só tem um problema: o seu principal adversário hoje não é mais aquele sem graça Fernando Haddad, mas um Lula com “sangue nos olhos”… e vacinado.