Fica a Dica!
A crônica Brincadeira faz parte do livro Comédias da Vida Privada, publicado em 1999 e foi escrita por Luís Fernando Veríssimo. A arte de brincar e pregar uma peça em alguém é muito bem retratada no texto, mas também pode ser perigoso porque muita gente leva as brincadeiras muito a sério.
Começou como uma brincadeira. Telefonou para um conhecido e disse:
— Eu sei de tudo.
Depois de um silêncio, o outro disse:
— Como é que você soube?
— Não interessa. Sei de tudo.
— Me faz um favor. Não espalha.
— Vou pensar.
— Por amor de Deus.
— Está bem. Mas olhe lá, hein?
Descobriu que tinha poder sobre as pessoas.
— Sei de tudo.
— Co-como?
— Sei de tudo.
— Tudo o quê?
— Você sabe.
— Mas é impossível. Como é que você descobriu?
A reação das pessoas variava. Algumas perguntavam em seguida:
— Alguém mais sabe?
— Outras se tornavam agressivas:
— Está bem, você sabe. E daí?
— Daí nada. Só queria que você soubesse que eu sei.
— Se você contar para alguém, eu…
— Depende de você.
— De mim, como?
— Se você andar na linha, eu não conto.
— Certo
Uma vez, parecia ter encontrado um inocente.
— Eu sei de tudo.
— Tudo o quê?
— Você sabe.
— Não sei. O que é que você sabe?
— Não se faça de inocente.
— Mas eu realmente não sei.
— Vem com essa.
— Você não sabe de nada.
— Ah, quer dizer que existe alguma coisa pra saber, mas eu é que não sei o que é?
— Não existe nada.
— Olha que eu vou espalhar…
— Pode espalhar que é mentira.
— Como é que você sabe o que eu vou espalhar?
— Qualquer coisa que você espalhar será mentira.
— Está bem. Vou espalhar.
Mas dali a pouco veio um telefonema.
— Escute. Estive pensando melhor. Não espalha nada sobre aquilo.
— Aquilo o quê?
— Você sabe.
Passou a ser temido e respeitado. Volta e meia alguém se aproximava dele e sussurrava:
— Você contou pra alguém?
— Ainda não.
— Puxa. Obrigado.
Com o tempo, ganhou uma reputação. Era de confiança. Um dia, foi procurado por um amigo com uma oferta de emprego. O salário era enorme.
— Por que eu? – quis saber.
— A posição é de muita responsabilidade – disse o amigo. – Recomendei você.
— Por quê?
— Pela sua discrição.
Subiu na vida. Dele se dizia que sabia tudo sobre todos mas nunca abria a boca para falar de ninguém. Além de bem-informado, um gentleman. Até que recebeu um telefonema. Uma voz misteriosa que disse:
— Sei de tudo.
— Co-como?
— Sei de tudo.
— Tudo o quê?
— Você sabe.
Resolveu desaparecer. Mudou-se de cidade. Os amigos estranharam o seu desaparecimento repentino. Investigaram. O que ele estaria tramando? Finalmente foi descoberto numa praia distante. Os vizinhos contam que uma noite vieram muitos carros e cercaram a casa. Várias pessoas entraram na casa. Ouviram-se gritos. Os vizinhos contam que a voz que se ouvia era a dele, gritando:
— Era brincadeira! Era brincadeira!
Foi descoberto de manhã, assassinado. O crime nunca foi desvendado. Mas as pessoas que o conheciam não têm dúvidas sobre o motivo.
Sabia demais.
Nas trilhas da Educação…
1. 2022 é ano eleitoral e até dia 04 de maio ainda dá tempo de tirar o título para votar nas próximas eleições. Mas, poucos jovens de 16 anos, idade em que o voto já é permitido, porém ainda não obrigatório, têm procurado para tirar o documento.
2. Ministério da Educação – MEC – divulgou na última sexta-feira – 22/04/2022 – o resultado das solicitações de isenção da taxa de inscrição para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2022 e das justificativas de ausência na edição de 2021.
3. Fuvest e Unicamp divulgam calendário do vestibular 2023: Fuvest: Inscrições: 15 de agosto a 23 de setembro de 2022, primeira fase: 4 de dezembro de 2022, segunda fase: 8 e 9 de janeiro de 2023, provas de habilidades específicas: 11 e 14 de janeiro. Unicamp: Inscrições: 1 de agosto a 2 de setembro de 2022, primeira fase: 6 de novembro de 2022, segunda fase: 11 e 12 de dezembro de 2022, provas de habilidades específicas: 4 e 6 de janeiro de 2023.
Poesia: o velho abrigo da alma
Tantas florestas…
Jacques Prévert (poeta francês – 1900/1977)
Tantas florestas arrancadas da terra
e massacradas
arrasadas
rotativadas
Tantas florestas sacrificadas para virar pasta de papel
milhares de jornais chamando anualmente a atenção dos leitores para os perigos do desmatamento dos bosques e das florestas.